Folha de S. Paulo


Potências da ciência são os maiores parceiros do Brasil

A universidade "bicampeã" do RUF no indicador de internacionalização, que mede o grau de colaboração com pesquisadores de outros países, tem como reitor um cientista alemão. Coincidência?

"É claro que a internacionalização vai muito além de ter um reitor com sotaque", desconversa, bem-humorado, o físico Klaus Werner Capelle, que comanda a Universidade Federal do ABC desde o começo deste ano.

As dez primeiras posições do ranking de internacionalização incluem tanto instituições que também lideram o RUF no cômputo geral, como USP (3ª), UFRJ (4ª) e UFMG (9ª), quanto a UFABC, que conta com a modesta 40ª posição no ranking principal, e a Universidade São Francisco (particular, com campi na capital paulista e no interior), segunda colocada nesse quesito, 51ª no geral.

Em comum, tanto as universidades mais tradicionais quanto as "zebras" no topo do ranking têm a seu favor o fato de escolherem os parceiros certos em suas pesquisas com colaboração internacional. Em todos os casos, o país de origem mais frequente dos colegas estrangeiros é os EUA (que ainda lideram a pesquisa mundial). Cerca de 30% dos artigos da UFABC com colaboração internacional, por exemplo, tiveram coautores americanos entre 2010 e 2011.

No topo da lista de colaboradores dessas universidades também estão cientistas de outras potências, como Inglaterra, Alemanha e França. O idioma comum coloca ainda Portugal entre os parceiros preferenciais.

Um pouco menos comuns, mas também importantes, são as colaborações com a China, estrela em ascensão no ramo das publicações científicas, mas com a reputação de produzir mais quantidade do que qualidade. E o destaque do país no cenário latino-americano também tende a gerar parcerias com argentinos, colombianos e mexicanos.

Para a classificação, o ranking da Folha considera a proporção entre artigos em periódicos científicos feitos em colaboração internacional e o total de artigos produzidos. Também foram computadas as citações desses artigos feitas por grupos internacionais, o que ajuda a medir o impacto de cada estudo.

Os dois primeiros colocados da lista têm políticas simples que tendem a favorecer a inserção dos docentes no cenário internacional.

"Nós não buscamos a internacionalização como um fim em si. Acho que ela é, ao mesmo tempo, ferramenta da busca pela excelência e consequência dela", diz Capelle. "Como só contratamos doutores com experiência em pesquisa, os contatos internacionais são naturalmente trazidos por eles."

Segundo ele, a UFABC conta hoje com 71 professores estrangeiros, ou 13% do corpo docente. A universidade tem publicado editais para concursos em inglês, além da versão em português, e Capelle afirma que a prova dos concursos poderia ser feita em inglês, se fosse necessário.

"A maioria dos professores estrangeiros vem com bom nível de português, mas também oferecemos cursos da língua a estrangeiros", diz.

Iara Fernandes, pró-reitora de ensino, pesquisa e extensão da Universidade São Francisco, afirma que uma das medidas adotadas recentemente pela instituição foi incentivar os seus professores a fazer pós-doutorado no exterior, mantendo, ao mesmo tempo, a remuneração.

"Nossos programas de pós-graduação possuem o número mínimo de docentes exigidos pela Capes. Essa estrutura enxuta, por outro lado, ajuda-nos a ter prioridades."

Editoria de Arte/Folhapress

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