Folha de S. Paulo


Para cursos, mais aulas práticas pode prejudicar docente

Os representantes dos cursos da USP, Unesp e Unicamp afirmam que não foram ouvidos durante a elaboração da norma do Conselho Estadual de Educação que impõe mudanças nos cursos de licenciatura e de pedagogia.

Agora, eles sugerem alterações, com o argumento de que a regra pode prejudicar a formação de docentes.

O Cruesp (conselho que representa os reitores das três instituições) chegou a pedir a revogação da deliberação, afirmando que ela fere a autonomia universitária.

Como não foi atendido, as universidades apresentaram sugestões de mudanças na norma. O teor principal é atenuar o aumento da carga horária para estágios e para disciplinas de prática de ensino.

As mudanças valem tanto para os cursos que formam professores do ensino infantil e início do fundamental (pedagogia) quanto para os do fim do fundamental e do médio (licenciaturas).

Assessora da pró-reitoria de graduação da Unesp (universidade que preside o Cruesp), Maria de Lourdes Spazziani afirma que as exigências podem inviabilizar o modelo de alguns cursos.

Ela cita o exemplo da biologia, em que hoje o aluno se forma apto a lecionar (licenciatura) ou para trabalhar como biólogo (bacharelado).

"A carga obrigatória atual já é pesada. Se tivermos de acrescentar mais coisas, teremos de separar o bacharelado da licenciatura. E, provavelmente, haverá menos jovens interessados na formação de professores", afirmou.

As práticas de ensino nas universidades representam cerca de 600 das 3.000 horas do curso. A norma impõe 900 (30% do total). As instituições sugerem 720 horas.

"Estamos abertos à discussão para melhoria dos currículos. Mas isso não necessariamente ocorrerá atendendo à legislação. Por isso, dialogamos com o conselho de educação", disse Spazziani.
"Nós, que temos grupos de pesquisa reconhecidos internacionalmente, fomos desconsiderados quando a deliberação foi feita", afirmou.

A norma do conselho de educação foi feita por ex-secretárias de Educação (Guiomar Namo de Mello e Rose Neubauer) e por uma docente da USP (Eunice Durham).

Para se adequarem às exigências, as universidades pedem que as regras passem a valer apenas em 2016. A solicitação ainda é analisada.

A discussão sobre os currículos ganhou força após estudo das fundações Carlos Chagas e Victor Civita mostrar que práticas de docência podiam chegar a apenas 10% dos cursos.


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