Folha de S. Paulo


Em 4 anos, matrícula no ensino integral cresce 46% na rede particular

É meio-dia em uma escola no Morumbi, na zona oeste de São Paulo. Enquanto um grupo de alunos se apressa para voltar para casa, outro também guarda o material, mas não passa do portão.

São estudantes do ensino integral, modelo cujas matrículas cresceram 46% no ensino fundamental das unidades particulares do país nos últimos quatro anos.

O total passou de 63,1 mil, em 2010, para 92,6 mil, em 2013, segundo o Censo Escolar –na rede pública, as matrículas no ensino integral no período cresceram 150% (de 1,2 milhão para 3 milhões).

Eduardo Knapp/Folhapress
Crianças do período integral do mini maternal (entre 2 e 3 anos), que passam as tardes no Colégio Albert Einstein
Crianças do período integral passam as tardes no Colégio Albert Einstein (zona sul de SP)

A jornada estendida (sete horas ou mais) abarca hoje 2% e 12% dos alunos das escolas privadas e públicas, respectivamente.

Associações de escolas particulares de 12 Estados ouvidas pela Folha garantem que houve um novo avanço, de até 30%, em 2014.

Entre as razões do aumento, representantes das escolas e responsáveis pelos alunos citam pais que trabalham o dia todo, trânsito intenso, falta de segurança e, mais recentemente, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos empregados domésticos.

Para o professor Remi Castioni, da UnB, o setor privado aproveita essas mudanças familiares para oferecer um diferencial. "É um serviço a mais para fidelizar o cliente."

José Augusto Lourenço, do sindicato da rede particular de São Paulo, diz que essa já é "uma tendência mundial".

"Os pais procuram muito [o ensino integral] porque, entre pagar um doméstico e a escola, na escola fica mais barato e mais seguro", diz a diretora do colégio Albert Einstein, Roberta Valverde.

Segundo associações e diretores de escola, a aprovação da lei das domésticas, no ano passado, que elevou os gastos com as funcionárias, deu mais um impulso à demanda pelas integrais.

Antes da lei, uma empregada com salário de R$ 1.000 custava ao patrão R$ 1.467,76, incluindo encargos. Agora, custa R$ 1.738,38 por mês.

Além do custo com o salário, "há o receio da questão trabalhista, dos patrões que agora teriam de assinar a carteira", afirma Airton de Oliveira, do sindicato dos colégios particulares do Ceará.

A mensalidade do ensino integral, contudo, fica de 60% a 115% mais cara que a do período regular. Num colégio da zona sul de São Paulo, por exemplo, salta de R$ 536 para R$ 1.055.

O fenômeno do crescimento das escolas integrais também chama a atenção das principais redes de ensino, que agora planejam criar apostilas e materiais didáticos somente para isso.

No sistema Anglo, por exemplo, metade das 550 escolas conveniadas no país já tem jornada ampliada. Na rede Objetivo, é oferecida em 122 das 917 colégios.

Especialistas ouvidos pela Folha veem avanços na educação com a adoção do ensino integral, desde que bem organizado e com jornadas não muito extensas.

Para Neide Noffs, da PUC-SP, os pais precisam rejeitar a "escola-supermercado", com vários "produtos" apenas para passar o tempo.

Ela defende turmas pequenas, de até 25 alunos, com professores bem formados e uma rotina definida para a criança, que inclua atividades como teatro e música.

Colunista da Folha e consultora em educação, a psicóloga Rosely Sayão avalia que mais de dez horas no colégio podem ser prejudiciais: "Já passamos a vida adulta concentrados nove ou dez horas em uma só atividade. Vamos poupar as crianças nesses primeiros anos de vida"?


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