Folha de S. Paulo


Professor de universidade em crise no Rio improvisa sala de aula na calçada

Na calçada em frente ao prédio da UniverCidade, em Vaz Lobo, na zona norte carioca, o professor Julio Abraham, 52, improvisou nesta quinta-feira (16) uma sala de aula para despachar com seus 150 alunos da disciplina "Tópicos Especiais Cíveis".

Ele pegou uma mesa emprestada no boteco ao lado e passou a atender seus estudantes entre 8h30 e 10h sob o sol forte do verão carioca e em meio à poeira de uma obra da prefeitura realizada exatamente naquele trecho da avenida Ministro Edgard Romero.

Em crise financeira, UniverCidade e Gama Filho, duas instituições sob a gestão do grupo Galileo Educacional, acabaram descredenciadas pelo MEC (Ministério da Educação) no início da semana. Na prática, a decisão do governo implica no fim das atividades acadêmicas.

Mesmo antes do anúncio do MEC, no entanto, as unidades das duas universidades privadas estavam fechadas devido à greve dos funcionários e professores que estão sem receber desde outubro.

O fim do semestre para os alunos de Abraham estava previsto para o dia 27 de janeiro, atraso associado a uma paralisação anterior, ocorrida nos meses de agosto e setembro de 2013. Por isso, o plano do professor era aplicar a prova final de sua disciplina em 6 de janeiro.

"No dia marcado, encontrei a universidade fechada. A coordenação avisou aos alunos que a prova seria transferida para a semana seguinte. Mas novamente tudo estava trancado", disse Abraham à Folha.

Para solucionar o impasse, o professor orientou seus alunos a produzirem um trabalho, que substituiria a aplicação da prova em sala de aula. E agendou a entrega na rua, em frente à UniverCidade.

"É constrangedor receber meus alunos no meio de uma calçada. Mas ao menos estou fazendo alguma coisa por eles. Prometi a eles que, mesmo com a crise, levaria até o final. Para mim, é uma questão de honra", esclareceu Abraham.

O MEC ainda prepara um edital para definir a transferência dos estudantes para outras universidades privadas, que só deverá ficar pronto na próxima semana.

Enquanto isso, mais de 50 estudantes da Gama Filho e UniverCidade foram à Brasília protestar e negociar com o MEC.

O futuro incerto dos 9.500 alunos das duas instituições ainda é agravado por questões burocráticas. Com as unidades fechadas, nenhum aluno consegue acesso aos documentos acadêmicos. Além disso, turmas inteiras encontram-se reprovadas porque muitas notas não estão sendo lançadas no sistema de dados das duas universidades.


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