Folha de S. Paulo


Candidatos a reitor dizem que USP terá de cortar investimentos

A USP terá de viver período de contenção de gastos nos próximos anos. A constatação foi feita pelos quatro candidatos a reitor da universidade.

Eles participaram de debate promovido pela Folha na noite desta segunda-feira (18), mediado pela jornalista Sabine Righetti.

Confirmada a previsão de contenção, a universidade não conseguirá manter o ritmo de investimento em infraestrutura e na expansão da folha de pagamento, o que dificultará o aumento de vagas na graduação, por exemplo.

Nos últimos anos, o orçamento da universidade vinha crescendo fortemente -os recursos acompanham a arrecadação do governo estadual.

Com a diminuição da expansão da atividade econômica no país, o crescimento orçamentário da USP diminuiu, e os novos gastos passaram a pesar mais.

Segundo Helio Nogueira da Cruz, um dos candidatos e ex-vice-reitor da atual gestão, neste ano o gasto com folha de pagamento chegou a 100% do orçamento da universidade.

No total, a instituição tem usado 125% do que recebe e, por isso, já usou cerca de R$ 1 bilhão das suas reservas (dado extraído de levantamento da Adusp, sindicato dos professores).

O Orçamento total da USP neste ano deve ficar por volta de R$ 4 bilhões.

Adriano Vizoni/Folhapress
Wanderley Messias da Costa, Helio Nogueira da Cruz, Marco Antonio Zago e José Roberto Cardoso durante Sabatina da Folha
Wanderley Messias da Costa, Helio Nogueira da Cruz, Sabine Righetti, Marco Antonio Zago e José Roberto Cardoso durante evento

AUTONOMIA

Segundo Cruz, o próximo reitor "precisará olhar contratação por contratação". Segundo ele, caso continue o "desequilíbrio", a USP "pode perder a autonomia, porque o governo do Estado pode ficar cansado" dessa situação.

Desde 1989, as universidades estaduais paulistas recebem um percentual fixo da arrecadação estadual e podem gastar segundo suas próprias diretrizes.

Wanderley Messias, ex-superintendente de relações institucionais da atual gestão, afirma que o "mínimo que se espera do próximo reitor é um plano de contingência".

Messias tem o apoio não oficial do atual reitor, João Grandino Rodas -questionado, o dirigente diz não apoiar nenhum candidato.

No debate desta segunda-feira, Messias lembrou que a situação atual orçamentária é fruto de demandas da própria universidade, como a construção de um centro de convenções e de melhorias nas carreiras de professores e de funcionários.

O candidato Marco Antônio Zago, ex-pró-reitor de pesquisa, afirmou que o risco de perda de autonomia "é real".

Ele disse ser difícil detalhar como sair dessa situação porque "não há transparência na gestão de recursos" -numa crítica indireta à atual reitoria.

"Não sabemos qual o fluxo de caixa, quantas são as reservas", disse.

Sobre o tema orçamentário, o candidato José Roberto Cardoso, ex-diretor da Escola Politécnica, atacou diretamente o concorrente Helio Nogueira da Cruz.

"Fiquei admirado que o vice-reitor use um dado da Adusp para falar do uso de reservas. Como ele não sabe o valor"?, questionou.

Também criticou a proposta de Cruz de elevar o número de alunos na universidade a uma taxa de 1% ao ano. "Ao final de quatro anos isso representará 10 mil estudantes a mais. Alguém já fez a conta de quanto é isso?", disse

Cruz disse que um baixo crescimento orçamentário já garantiria seu programa e que, como vice-reitor, não era encarregado de cuidar diretamente das contas da universidade.

CRONOGRAMA

A votação para escolha do novo reitor será em 19 de dezembro. Votarão cerca de 2.000 pessoas, membros de conselhos da instituição.

Os mais votados formarão lista tríplice, a ser encaminhada ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quem caberá a decisão final.


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