Folha de S. Paulo


Aluno com alto desempenho em escolas públicas pode se 'autoexcluir'

Um dos maiores desafios enfrentados no caminho ao ensino superior pode estar no próprio estudante. É a chamada "autoexclusão".

Isso acontece quando a pessoa deixa de tentar algumas oportunidades por se sentir naturalmente excluída. Por exemplo, um estudante de escola pública (tida como ruim) que acaba não prestando o vestibular para uma boa universidade.

Alunos "fora da elite" se destacam na melhor escola de administração do país

"Muitas vezes o estudante até tem preparo, pois não é toda escola pública que é fraca. Mas ele acaba se sentindo socialmente excluído", explica Leda Maria Oliveira Rodrigues, da Faculdade de Educação da PUC-SP.

"É como se eles pensassem: tal faculdade não é para mim", comenta Marco Antonio Carvalho Teixeira, vice-coordenador da graduação em administração da FGV.

Esses alunos acabam nem fazendo o vestibular. Se fazem e são aprovados, não aparecem na matrícula.

Foi o caso de Reginaldo Gonçalves. Quando viu que foi aprovado na FGV e que teria bolsa de estudos, ele não foi à fundação porque achou que teria de pagar a matrícula, de quase R$ 3.000.

"A FGV ligou em vários lugares atrás de mim, até me achar na igreja. Então me explicaram que eu não precisaria pagar nada", conta.

De acordo com ele, o valor da matrícula equivale à renda mensal da sua família.

"Uma amiga minha que queria fazer direito nem prestou a prova da FGV", diz ele.

BUSCANDO TALENTOS

As universidades de qualidade conhecem bem os sintomas da autoexclusão, tanto que estão buscando alternativas para evitá-la.

A própria FGV montou um cursinho pré-vestibular para alunos carentes com aulas ao sábados -iniciativa que veio dos próprios alunos.

Reginaldo é um dos porta-vozes do cursinho. Ele visita escolas públicas incentivando alunos para o vestibular.

Neste ano, a maior universidade do país, a USP, também anunciou um cursinho com mil vagas para alunos carentes a partir de 2014. A ideia é atrair e capacitar jovens de baixa renda.

A medida faz parte do programa de inclusão da USP. A meta da universidade é chegar a 50% de alunos vindos de escolas públicas em 2018.

Hoje, são 28%, com variações entre os cursos. (SR)


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