Folha de S. Paulo


É essencial desenvolver informações melhores da universidade

Há muito em jogo no ensino superior. Governos e público esperam, com razão, que as universidades elevem o nível nacional de capacitação, fomentando a modernização continuada e o avanço da prosperidade.

Pesquisas produzidas em universidades enfrentam grandes problemas humanos, como saúde pública, projeto urbano, segurança de alimentos e água e mudança do clima. Ao mesmo tempo, a pesquisa tem papel cada vez mais central nas economias propelidas pelas inovações em produtos e marketing --e a ciência e o estudo se tornaram grandes instrumentos de desenvolvimento regional e de melhoria da vida urbana.

O surgimento de ensino e pesquisa de classe mundial é um dos traços principais nas duas grandes zonas de desenvolvimento acelerado do século 21, a América Latina e o leste da Ásia.

A crescente força das universidades do Brasil é tanto sintoma quanto causa da crescente força do Brasil no cenário mundial.

A USP é uma instituição de primeira linha em termos de ciência e desempenho acadêmico. Outras universidades brasileiras também estão começando a ganhar importância internacional.
As escolas de primeira linha são poderosas concentrações de talento, criatividade, percepção, ideias e desenvolvimento de produtos.

É crucial que o Brasil desenvolva mais instituições como essas. Os países sem universidades de classe mundial se verão cada vez mais sujeitos a agendas determinadas fora de suas fronteiras. A fraqueza na educação e na ciência significa neocolonização e dependência.

Mais e mais famílias desejam saber quais as melhores universidades para seus filhos. Público, governo e empresas querem saber quais devem ser foco de investimento e como as instituições brasileiras se comparam às universidades de outros países, e umas às outras.

Tudo isso torna essencial o desenvolvimento de informações melhores sobre as universidades. Trata-se de instituições complexas, com muitos papéis e muitas formas de produção. Uma maneira de enquadrar as informações é classificá-las em comparação direta, com critérios determinados pelos diferentes elementos da atividade universitária: ensino e aprendizado, pesquisa, inclusão social, conexões internacionais e assim por diante.

Com seu ranking de universidades brasileiras, a Folha fez exatamente isso. O ranking resume um problema complexo em termos claros e simples.

Mas esse processo também tem seus limites e pontos fracos, e é importante tê-los em mente.

Muitas vezes, os rankings combinam dados objetivos -fatos observáveis, tais como o número de alunos e de estudos publicados ou as verbas investidas- a fatores subjetivos, baseados em pesquisas. Pesquisas de opinião, quer entre leigos, quer entre especialistas, sempre se baseiam em informações parciais, distorcidas e imprecisas. Não podemos depender delas para oferecer comparações precisas entre instituições. Dados sólidos e observáveis são muito mais úteis.

ENSINAR E APRENDER

Os rankings medem algumas formas de produção universitária de maneira mais completa e precisa que outras. Os indicadores de pesquisa em termos de número de estudos publicados, e do impacto desses estudos com base no número médio de citações acadêmicas, são relevantes e têm base sólida. Mas esses indicadores não nos dizem tudo sobre a relevância social e econômica e o impacto das pesquisas.

Ensinar e aprender são muito mais difíceis de quantificar. Faltam-nos ferramentas para comparar precisamente a qualidade do ensino de diferentes disciplinas universitárias, quanto mais para comparar uma universidade à outra, ou países inteiros. Podemos medir os recursos materiais investidos, mas não a qualidade das aulas e seus efeitos a longo prazo sobre o avanço na capacitação dos estudantes.

Indicadores de internacionalização e de contribuições das universidades à inovação capturam apenas pequena porção das ricas atividades que essas rubricas abarcam. Isso não significa que sejam inválidos, mas que os rankings devem ser tratados como uma dentre diversas fontes possíveis de informação.

Surgem outros problemas quando esses diferentes elementos são combinados em um índice e tabela de classificação únicos. Para combinar os diferentes elementos, é preciso desenvolver um sistema de ponderação. Ponderar é um processo estimativo, e o ranking combinado resultante tem pouco valor objetivo. Essa é uma área na qual o processo de ranking envolve simplificação excessiva. É melhor classificar universidades em termos de indicadores únicos do que de indicadores combinados.

A despeito desses problemas, as comparações e rankings universitários são um setor em crescimento. O debate sobre a precisão e validade dos indicadores fomenta uma cultura de melhora na mensuração. No futuro, devemos ter novas formas de rankings universitários, bem como melhora continuada na qualidade das comparações.

SIMON MARGINSON é professor de educação superior no Centro de Estudos do Ensino Superior da Universidade de Melbourne.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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