Folha de S. Paulo


Cursos de formação fora do Brasil vão de um a cinco anos

Mesmo entre países desenvolvidos, com bons resultados nas avaliações internacionais de qualidade de ensino, é grande a variedade de modelos de formação de professores, inclusive dentro das fronteiras da mesma nação.

Nos EUA, por exemplo, a Universidade Harvard, considerada a melhor do mundo, oferece a qualquer um de seus alunos de graduação um curso "relâmpago".

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São apenas quatro disciplinas, cursadas em dois semestres, acompanhadas de estágios em escolas públicas, o que confere aos graduandos um diploma equivalente, grosso modo, ao de um professor de ensino médio.

Por outro lado, em Cingapura, uma das estrelas do Pisa (sigla inglesa de Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), a rigidez na formação é muito maior: ao entrar na faculdade, os futuros professores automaticamente se tornam funcionários do governo e passam a ser monitorados como tal.

"Assim como aqui, em diversos países há o embate entre a visão de que o bom professor precisa ser formado por meio de saberes muito específicos e próprios da profissão, como se fosse um estudante de medicina, e a de que basta conhecer bem o conteúdo e ter o dom de ensinar", diz Paula Louzano, professora da Faculdade de Educação da USP que, em seu trabalho acadêmico, tem comparado esses diferentes modelos.

Apesar dessa diversidade, no entanto, Louzano diz que existem alguns pontos comuns nos sistemas que "dão certo", por assim dizer.

MESTRANDOS

Na Finlândia, outro país-astro do Pisa, o curso de formação de professores equivale a um mestrado, algo que também acontece nas universidades americanas e britânicas com reputação de excelência na área, por exemplo.

"São cinco anos e meio de formação na Finlândia", diz Louzano. "Pode não parecer tão diferente de uma licenciatura daqui porque a pessoa faz um curso específico e depois tem pouco mais de um ano de disciplinas pedagógicas, digamos. Mas uma das diferenças é o fato de isso ser pensado como mestrado."

Encarar a formação de professores como uma pós-graduação ajuda a pensar o campo de forma mais científica, com base em evidências do que funciona na sala de aula, explica ela.

As experiências de sucesso também dão destaque à experiência prática dos futuros professores. No caso finlandês, os estágios em escolas correspondem a cerca de 30% dos créditos de todo o curso.

"Mas mais importante do que o tempo de estágio é a qualidade desse tempo", afirma a professora da USP.

Na Finlândia e nas "ilhas de excelência" dos EUA, por exemplo, há um vínculo institucional claro entre a faculdade e a escola que recebe o aluno estagiário.

"A ideia é que o aluno tenha esse contato com a prática desde que ele põe os pés na faculdade", diz Louzano.

DIRETRIZES CLARAS

As atividades nas escolas da Finlândia vão aumentando de frequência e importância ao longo do curso, com os alunos começando como observadores, passando a ser tutores e, enfim, dando aula praticamente sozinhos.

"E não é qualquer professor que pode receber esses alunos: os professores são escolhidos a dedo e atuam como co-orientadores do universitário, em pé de igualdade com o orientador dele na universidade", explica.

Louzano reconhece que isso é mais fácil de colocar em prática em países relativamente pequenos, com grande controle do Estado sobre a formação dos professores.

"Mas o que nós podemos fazer, num ambiente em que há muito mais faculdades e desníveis entre elas, como aqui no Brasil, é estabelecer diretrizes mais claras para os currículos [de formação de professores] e não tão gerais como as que existem hoje."


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