Folha de S. Paulo


Professora da PB une matemática e cotidiano e ganha medalhas em olimpíada

Uma professora de matemática de uma escola municipal do sertão da Paraíba resolveu criar uma metodologia de ensino para atrair os alunos. Resultado? A escola virou destaque na OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas).

A escola municipal Cândido de Assis Queiroga, do município Paulista (PB), de 11 mil habitantes, tem, sozinha, mais medalhas de ouro do que todas as escolas públicas juntas da maioria dos Estados do Brasil. A escola ainda tem quase 75% das medalhas de ouro de toda a Paraíba.

A concorrência é forte: há escolas técnicas e militares no grupo.

Nas olimpíadas deste ano, promovidas pelo Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), a escola levou cinco medalhas de ouro.

Para conseguir o feito, Jonilda Ferreira, 44, resolveu aliar a matemática ao cotidiano. Antes de ensinar fração, por exemplo, ela faz uma vaquinha e chama todo mundo para a pizzaria "de um amigo". "Aí, quando explico fração na lousa, eles entendem."

"Se eu não faço isso, os alunos ficam olhando para a lousa com uma cara de ponto de interrogação", conta.

Leonardo Pessanha/Impa
Professora de matemática Jonilda Ferreira, 44, com alunos da escola municipal Candido de Assis Queiroga, em Paulista, na Paraíba
Professora de matemática Jonilda Ferreira, 44, com alunos da escola municipal Candido de Assis Queiroga, em Paulista, na Paraíba

Para outros conteúdos, Jonilda leva os alunos para o posto de gasolina e ou mercado. "Só tenho giz e lousa na escola. Há um laboratório de informática, mas estamos esperando o técnico para poder usar os computadores."

Formada em economia e em matemática, Jonilda ganha o piso: cerca de R$ 1,5 mil por mês. Agora quer fazer mestrado na UFPB (Universidade Federal da Paraíba) --para onde já viaja um sábado por mês com um grupo de 20 alunos da escola.

Eles são bolsistas de iniciação científica e passam o dia estudando matemática.

Agora, eles viajaram juntos para Recife (PE), onde acontece o principal encontro de cientistas do país.

A professora aprendeu a calcular com o pai. A paixão pelos números é de família: Wanderson Ferreira de Assis, 12, filho de Jonilda, é um dos medalhista de ouro na última olimpíada. Por que ele gosta de contas? "Porque a matemática está em todos os lugares. Está na forma desta parede", explica o garoto. Ele quer ser engenheiro civil.

Jonilda conseguiu ainda outro feito: fazer com que meninas se saiam bem nas contas. Na última olimpíada, 80% das medalhas de ouro da escola foram conquistadas por meninas. A média nacional é exatamente oposta: 80% dos ganhadores são do sexo masculino.


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