Folha de S. Paulo


Start-ups brasileiras lançam apps de 'cidadania' durante Campus Party

Participantes apresentam aplicativos sobre transporte público e prevenção de desastres naturais em competição do maior evento de inovação tecnológica do mundo. Sétima edição no Brasil aposta em empreendedorismo.

Três projetos brasileiros são finalistas do desafio Smart Cities FI-WARE, que busca soluções na internet para problemas urbanos durante a Campus Party, o maior festival de inovação tecnológica, internet e entretenimento eletrônico do planeta e que acontece no mundo todo.

Os participantes desta competição do evento apresentaram aplicativos sobre transporte público, prevenção e gestão de desastres naturais e psicologia ambiental. A final será realizada neste sábado (01/02), um dia antes do encerramento da sétima edição da Campus Party Brasil no Anhembi Parque, na zona norte da cidade de São Paulo.

As 40 equipes que participam do desafio Smart Cities FI-WARE serão julgadas por uma comissão de especialistas e concorrem a € 400 mil em prêmios. Um dos finalistas, a startup VM9, de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, criou o aplicativo FI Guardian, que funciona como um sistema de alerta contra desastres naturais neste caso específico, o alerta é contra chuvas e deslizamentos de terra.

A ideia surgiu em 2011, depois que Nova Friburgo foi palco de uma das maiores tragédias naturais do Brasil com uma enchente que causou mais de 900 mortes. O aplicativo reúne informações de diversas fontes, como institutos de meteorologia e órgãos governamentais, o sobre clima, o volume de chuvas e dos rios. Caso as condições sejam de risco, o FI Guardian aciona sirenes móveis e envia mensagens para os celulares dos cidadãos cadastrados.

"Ele também é capaz emitir um comando de voz, com orientações, no telefone de um morador de área de risco", explica Marcos Marconi, de 46 anos, engenheiro de sistemas e um dos desenvolvedores do projeto.

O aplicativo também prevê a opção do usuário enviar um pedido de socorro e os dados, já com a localização da pessoa em um mapa, aparecem para as autoridades. "Com isso é possível racionalizar o atendimento, porque, nestes momentos, o serviço 199 [número de telefone da Defesa Civil] fica completamente congestionado", conta Marconi. Transporte público Outro aplicativo brasileiro que está na disputa do prêmio foi desenvolvido pela startup carioca Eyllo.

A plataforma, apelidada de Paprika, será usada para apresentar informações do transporte público, já disponíveis ao público, em uma interface prática. "Basta apontar o celular para o ponto de ônibus e aparecem as linhas e os horários", conta Enylton Machado, de 43 anos, um dos responsáveis pela ideia.

Ele ressalta que o aplicativo deve ser expandido para englobar outros serviços como restaurantes, hotéis, pontos turísticos e outros. "Teremos vários canais de interesse do usuário. Ele vai selecionar o que deseja e a informação aparecerá na tela", diz Enylton.

O aplicativo trabalha com realidade aumentada, isto é, uma informação que é adicionada, neste caso, sobre a cidade. "É uma mistura do virtual e do real", afirma.

IMPRESSÕES

Outro finalista da competição é o grupo La Urbo, que criou um aplicativo para informar os sentimentos dos cidadãos a respeito de pontos dentro das cidades. "Se um bairro é perigoso, as pessoas sentem medo. Se é sujo, sentem nojo", explica um dos desenvolvedores, Daniel Lima. O objetivo, segundo ele, é que o poder público possa usar os resultados para melhorar a qualidade de vida dos moradores.

No aplicativo, há dez opções de sentimentos negativos e dez positivos. "Funciona um pouco como o [aplicativo gratuito de localização] Foursquare: você dá 'check-in' em um lugar e classifica as suas emoções", diz Daniel. Ele afirma que o aplicativo permite gerar relatórios e estatísticas geolocalizadas sobre a satisfação dos moradores com os serviços da cidade, como o transporte público, por exemplo. Além disso, as informações podem ser filtradas de acordo com gênero e idade para preferências de um público mais específico.

Até agora, São Paulo e Brasília foram as cidades escolhidas para os protótipos do aplicativo La Urbo (que significa "a cidade" em esperanto).

COMISSÃO EUROPEIA

Os desafios Smart Cities e Smart Business & Industry são promovidos pelo programa FI-PPP, uma parceria público-privada criada em 2011 entre a Comissão Europeia e empresas do chamado Velho Continente, baseada no conceito de Internet do Futuro.

"Muitas das inovações em termos de aplicativos parecem vir atualmente dos Estados Unidos. Por isso, o FI-PPP visa recolocar a Europa para competir neste mercado da internet", afirma Carlos Ralli, líder de disseminação do FI-WARE, principal plataforma da iniciativa.

Ele explica que o objetivo do desafio é divulgar o FI-WARE, de uso gratuito e de código aberto, para os desenvolvedores. Por isso, os competidores devem criar seus aplicativos usando a plataforma de software, que se executa na nuvem (princípio pelo qual se pode acessar informações de qualquer lugar do mundo pela internet, sem necessidade de instalação de programas ou armazenamento de dados).

"Temos componentes poderosos que facilitam o desenvolvimento de aplicativos", garante Carlos Ralli. Ele acrescenta que o FI-WARE também disponibiliza informações de acesso público formatadas para a programação: "Alguns dados que os governos abrem não são vistos pelos cidadãos porque são difíceis de encontrar. Então nós reunimos as informações e os desenvolvedores fazem os aplicativos para os usuários", explica.

De acordo com Carlos Ralli, a Comissão Europeia investiu € 300 milhões no programa. Ele acrescenta que há uma tentativa de aproximar a plataforma dos desenvolvedores na América Latina. "Pretendemos instalar um centro de processamento de dados FI-WARE na região para oferecer um serviço melhor e mais rápido", diz. Campus Party Para Carlos Ralli, a Campus Party é o veículo ideal para se comunicar com os futuros desenvolvedores de aplicativos de internet. Daniel Lima, do projeto La Urbo, acredita que o evento é uma grande oportunidade de colocar em prática e experimentar novas tecnologias.

O evento foi criado na Espanha em 1997 e, desde então, já foram realizadas edições na Colômbia, México e Equador, além de edições especiais na América Latina e Europa. Este ano o festival tem como foco o empreendedorismo e espera receber 8.000 campuseiros, como são conhecidos os participantes do evento que acampam no Anhembi, e 160 mil visitantes.


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