Folha de S. Paulo


Espectadores fiéis mantêm cinemas de rua

Na contramão de outros municípios da região, os cinemas de rua de Matão (a 305 km de São Paulo) e de São Carlos (a 232 km de São Paulo) ainda atraem público.

O Cine Matão foi aberto há cerca de dez anos -a cidade ficou sem cinema desde a década de 1980.

Segundo a proprietária, Valéria Tadiotti, 62, o local dividia espaço com apresentações de teatro e formaturas.

Porém, a necessidade de aposentar os antigos projetores de película e implantar a digitalização fez com que se transformasse, exclusivamente, em cinema.

São duas salas, de 312 e 137 lugares. As sessões acontecem apenas aos finais de semana e estão sempre cheias.

"Não sobrevivo do cinema porque tudo o que entra é reinvestido", afirma.

Embora tenha sido a primeira pequena exibidora a digitalizar o cinema de rua na região, Valéria diz temer os futuros avanços tecnológicos.

"Não sei até quando conseguiremos acompanhar as mudanças", afirma.

"O problema é que ainda falta mão de obra especializada na manutenção desses equipamentos digitais", diz Fernando Kaxassa, fundador do Cine Clube Cauim de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

De São Carlos, Pedro Casella, 60, afirma que já recorreu à Ancine (Agência Nacional de Cinema) para financiar a compra de projetor digital.

A intenção é manter o público. "Embora haja cinema em shopping, a nossa movimentação continua alta."

Para ele, o fluxo ainda é intenso porque se formou um público fiel, que assiste de lançamentos a filmes antigos e alternativos.

O Cine São Carlos, por exemplo, foi o único da região de Ribeirão a exibir "Relatos Selvagens" (2014), uma coprodução entre Argentina e Espanha.

Casella abriu o cinema depois de vencer uma licitação da Prefeitura de São Carlos que pretendia revitalizar a região central da cidade.

O contrato é válido por dez anos. Mensalmente, ele repassa 4% de cada ingresso vendido ao Fundo Municipal de Cultura.

"O empresário de cinema tem de se adaptar com o passar dos anos. Quem não fizer isso vai ficar para trás."

SITUAÇÃO RUIM

No Cine Mococa, a situação é ruim: o espaço tem capacidade para receber 700 pessoas, mas tem, em média, 80 espectadores por mês.

Em 2004, para impedir o fechamento por falta de público, um grupo de moradores criou uma sociedade anônima para mantê-lo.

As dificuldades financeiras, no entanto, ainda persistem, segundo Roberto Mônaco, 78, diretor do cinema.

"Não é possível saber até por quanto tempo continuaremos abertos."

Já em Altinópolis (a 333 km de São Paulo), após dez anos de funcionamento, a população viu seu único cinema fechar as portas.

"O dono do prédio o pediu de volta, e a prefeitura teve de devolver", diz João Mello Rodrigues, 54, ex-diretor.


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