Folha de S. Paulo


Exportação de calçado vai atingir o pior nível em 30 anos, diz sindicato

A exportação de calçados em Franca (a 400 km de São Paulo) deve encerrar os últimos 12 meses com queda de 9% em relação ao mesmo período anterior.

O volume –2,6 milhões de pares– é o pior dos últimos 30 anos, segundo estimativa das indústrias. Os dados consolidados serão divulgados no final deste mês.

Segundo a direção do Sindifranca (Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca), é a segunda crise que o setor enfrenta em seis anos.

Já o faturamento com as exportações deve ser de US$ 56,4 milhões –30% mais baixo do que o registrado em 2009 (US$ 80 milhões), ano da crise financeira mundial.

Silva Júnior - 17.dez.2014/Folhapress
Operários trabalham na produção de calçados em fábrica de Franca
Operários trabalham na produção de calçados em fábrica de Franca

As causas para a redução, segundo a direção do sindicato, foram o baixo consumo aliado ao alto custo de produção pela elevada carga tributária e trabalhista, gastos maiores com logística e a concorrência com os asiáticos.

Sem as exportações, as indústrias de Franca registraram maior dependência do mercado doméstico, com 96,5% de sua produção voltada para o consumo interno.

Há cinco anos, o índice era de 86%. Mesmo assim, as vendas para o mercado interno foram menores por causa da crise da economia nacional, que deixou o consumidor mais cauteloso.

"Um conjunto de fatores prejudicou o setor. A gente já havia perdido espaço no mercado externo para os asiáticos, porque os produtos deles são mais baratos que os nossos", disse o presidente do Sindifranca, José Carlos Brigagão do Couto.

Em 2014, as indústrias calçadistas do município produziram 1,5 milhão de pares de calçados a menos que em 2013, quando foram feitos 39 milhões de pares.

CRISE

"A indústria de Franca já não dependia mais das exportações, porque sabe que é uma operação arriscada. Muitas empresas focaram no mercado interno, porque o consumo no Brasil estava aumentando, mas esse ano quebrou todas as nossas expectativas", disse Brigagão.

Por causa disso, as indústrias demitiram. Até novembro do ano passado, foram fechadas 1.127 vagas, segundo o Ministério do Trabalho.

Dono de uma fábrica de calçados de couro há 24 anos, Jamil César David disse que 2014 foi o ano mais difícil para a sua empresa. A unidade fechou o ano com uma produção 12% menor do que a dos últimos dois anos.

A expectativa era produzir 300 mil pares de sapatos no ano, mas foram feitos apenas 260 mil. "No primeiro semestre, a gente conseguiu manter um ritmo normal de vendas, mas no segundo semestre tudo piorou. Até agora estamos com uma perspectiva negativa porque ninguém está comprando", disse David.

Dos cerca de 150 funcionários, David teve que dispensar 30. Ele também fechou uma fábrica de pesponto, em Pedregulho, devido à crise.


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