Folha de S. Paulo


Brasileiro participa de missão de pouso inédito em cometa

Por quatros anos a função do engenheiro espacial Lucas Fonseca, 30, foi imaginar e criar soluções para todas as adversidades que poderiam ocorrer durante a missão que realizou o pouso do módulo Philae, por meio da sonda Rosetta, em um cometa.

Esse foi o primeiro registro da história do contato de uma espaçonave com um cometa. Fonseca foi o único brasileiro a participar dessa etapa da missão.

Desde o mês passado, a sonda já trouxe análises que podem indicar o surgimento da água na Terra.

O módulo nos próximos meses poderá ainda fazer imagens e análises do solo do cometa.

Fonseca entrou no projeto quando fazia mestrado na DLR (Centro Aeroespacial Alemão), na cidade de Colônia, na Alemanha. O centro é responsável pela missão, que leva o nome da sonda.

Depois de apresentar a dissertação, em que previa como seria o pouso do Philae, Fonseca foi contratado pela ESA (Agência Espacial Europeia), onde trabalhou por mais três anos com as simulações de pouso.

O engenheiro disse que simulou todas as adversidades que poderiam ocorrer durante o pouso e, segundo ele, as chances de que a missão desse errado eram grandes, já que a sonda foi lançada ao espaço em 2004 e percorreu 6,4 bilhões de quilômetros no sistema solar até o cometa.

Edson Silva/Folhapress
Engenheiro espacial Lucas Fonseca, 30, responsável por prever situações adversas, na USP São Carlos
Engenheiro espacial Lucas Fonseca, 30, responsável por prever situações adversas, na USP São Carlos

"Eram simulações genéricas e que previam os cenários mais catastróficos. Apesar de todos os estudos, nós sempre simulamos pousos de até duas horas de duração. Mas durante a missão, o pouso durou sete horas", disse.

Fonseca disse ter orgulho da participação na missão, já que ela, de certa forma, pode ajudar a entender a origem da vida no sistema solar.

"Um cometa fica a maior parte de sua existência longe do Sol, por isso, sofre pouco desgaste solar em sua superfície. Com isso, poderemos saber como eram os corpos no início do sistema solar", disse Fonseca.

Ainda de acordo com ele, as primeiras análises feitas pela sonda já trouxeram algumas hipóteses, como por exemplo a de que os asteroides teriam trazido água para a Terra.

A estimativa é que o módulo consiga mandar informações para os pesquisadores por até dois anos.

PROJETOS NO BRASIL

Depois que voltou da Alemanha, há cerca de dois anos, Fonseca montou uma empresa de pesquisa de desenvolvimento espacial.

Ele também tem um grupo de estudos na USP São Carlos (a 232 km de São Paulo), onde desenvolve um projeto para lançar um satélite.

"A pesquisa aeroespacial no Brasil ainda é muito incipiente. Apesar de desenvolver projetos na área desde a década de 70, eles ocorrem devagar", disse Fonseca.

Ele e um grupo de pesquisadores da USP buscam parceiros e financiamento de entidades privadas e públicas para viabilizar o lançamento do satélite.

A estimativa de Fonseca é que o projeto custe cerca de R$ 10 milhões.

"A ideia é colocar uma colônia de bactérias nesse satélite e mandar para a região lunar. Com isso, ver as variações e dar subsídio para experimentos mais complexos".


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