Folha de S. Paulo


USP desenvolve 'estressômetro' em São Carlos

"Você parece tenso. Que tal ouvir um pouco de Beatles? Aproveite para descansar e tomar um suco."

É o tipo de conselho que poderia ser dado por um amigo que conhece seu gosto musical –e que deve ser dado também pelo "estressômetro" que está sendo desenvolvido por pesquisadores do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP São Carlos (a 232 km de São Paulo).

O plano da equipe coordenada pelo cientista da computação Jó Ueyama é combinar ferramentas comuns de celulares –reconhecimento de voz, câmera, sensores de movimento e de luminosidade– num aplicativo capaz de monitorar o humor dos usuários, detectando estresse elevado ou sinais de depressão.

"Uma vez que isso é feito, passa-se para a fase que a gente costuma chamar de persuasão. Ou seja, o aparelho sugere para a pessoa estratégias para lidar com aquele problema", disse Ueyama.

Segundo ele, aplicativos já fazem avaliações do estresse com base em dados como batimentos cardíacos ou análise de expressões faciais.

"O que estamos fazendo de diferente é tentar juntar fontes de informação e analisá-las para conseguir uma avaliação mais confiável, que não confundiria alguém muito irritado com alguém muito animado, por exemplo."

O trabalho é parceria da equipe da USP com colegas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e da Universidade do Arizona (EUA).

Alunos de pós-graduação de Ueyama estão desenvolvendo cada um dos elementos do aplicativo, como reconhecimento de fala, de expressões do rosto e análise de batimentos do coração.

Divulgação
Relógio inteligente, que mostra frequência cardíaca integra pesquisa desenvolvida na USP São Carlos
Relógio inteligente, que mostra frequência cardíaca integra pesquisa desenvolvida na USP São Carlos

Parte da calibragem para expressões faciais foi feita por um método curioso: pesquisadores filmaram pessoas jogando o tradicional game Super Mario Bros e compararam os movimentos do rosto quando o jogador vencia uma fase ou era derrotado.

No caso da fala, um programa analisa o significado das palavras ditas, em busca dos termos com conteúdo emocional (como "feliz" ou "deprimido", por exemplo).

A ideia é integrar os sensores do smartphone com os de um "smartwatch", ou relógio inteligente, que fica conectado ao celular via Bluetooth e tem um bom monitor cardíaco, entre outras funcionalidades.

Outra vantagem é que ele parece um relógio comum, evitando que o usuário se sinta "bisbilhotado".

IDOSOS CONECTADOS

A tecnologia passará por seu primeiro teste de campo em janeiro, quando um grupo de cinco idosos de São Carlos receberá os "smartwatches" e passará a ser monitorado, em parceria com gerontologistas da UFSCar.

No caso de pacientes mais velhos, a tecnologia ainda pode ser importante para enviar sinais de alerta sobre problemas de saúde de modo geral, segundo Sibellius Seraphini, que faz mestrado na USP.

"A medição de batimento cardíaco, dependendo do caso, pode avisar um médico, ou a pessoa que cuida do idoso, que ele está passando mal. Também há um sinal sonoro discreto capaz de detectar se a pessoa está há muito tempo dentro de um banheiro, por causa da acústica típica do ambiente, e indicaria se a pessoa sofreu uma queda ou passou mal lá dentro."


Endereço da página: