Folha de S. Paulo


Lar Santana já abrigou 'filhas da elite' de Ribeirão Preto

Reprodução
Madre Maurina Borges da Silveira (3ª da dir. para esq., de óculos) no México, após ser exilada
Madre Maurina Borges da Silveira (3ª da dir. para esq., de óculos) no México, após ser exilada

O Lar Santana, que já foi orfanato, abrigou crianças de mães solteiras da elite de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

O objetivo: abafar um escândalo social.

Madre Maurina Borges da Silveira (1924-2011), ex-diretora, devolveu 15 crianças deixadas na porta do local.

Em entrevista à Folha em 1998, a madre disse que explicou às famílias que o lar era um "lugar para gente pobre".

"É impossível falar da história do Lar Santana sem falar da madre", afirmou a enfermeira aposentada Áurea Moreti, 70, presa e torturada no regime militar.

A religiosa era diretora do lar quando foi presa acusada de subversão, em 1969.

Sem que ela soubesse, aconteciam reuniões secretas de jovens guerrilheiros das Faln (Forças Armadas de Libertação Nacional) no porão.

Lá, o grupo também imprimia o jornal "O Berro", que era contra a ditadura.

"Ela nem desconfiava porque o grupo, que fazia parte da Juventude Católica, também imprimia materiais da igreja", disse Áurea.

Segundo ela, quando a madre chegou para dirigir o então orfanato, o grupo já havia se instalado no porão.

Naquela ocasião, o orfanato abrigava 220 crianças.

O sofrimento da madre foi exposto na Comissão da Verdade da OAB de Ribeirão pelo irmão dela, o frei dominicano Manoel Borges da Silveira, 83, em junho.

O depoimento foi encaminhado à Comissão Nacional da Verdade, que entrega o relatório final na quarta (10).

Segundo o frei, a irmã sofreu assédio sexual.

Os algozes da madre ficaram acariciando-a, mas não houve estupro.

Ela ainda levou choques por fios de energia ligados aos seus seios.


Endereço da página: