Folha de S. Paulo


Mais votados para deputado são 'herdeiros políticos' em Ribeirão Preto

Os candidatos a deputado estadual e federal de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) que ficaram entre os mais bem votados são herdeiros políticos com história de vida pública amparada na trajetória dos pais.

A opção dos eleitores acaba perpetuando famílias no comando da política da região de Ribeirão, fato que, para especialistas, é negativo.

O deputado federal Antonio Duarte Nogueira Júnior (PSDB), reeleito, e Baleia Rossi (PMDB), que pela primeira vez estará na Câmara dos Deputados, são filhos de políticos conhecidos na cidade e ficaram entre os mais votados em São Paulo.

Ocuparam o sétimo (253 mil votos) e o 11º lugar (200 mil), respectivamente, na lista dos mais votados.

Edson Silva/Folhapress
O deputado federal Antonio Duarte Nogueira Junior em entrevista em seção eleitoral de Ribeirão Preto
O deputado federal Antonio Duarte Nogueira Junior em entrevista em seção eleitoral de Ribeirão Preto

Também filhos de políticos, os candidatos a deputado estadual Maurílio Romano (PP) e a federal Ricardo Silva (PDT) não foram eleitos, mas tiveram votação expressiva. Silva com 98 mil votos e Romano, com 42 mil.

Para especialistas, os resultados das urnas são vestígios dos tempos da oligarquia brasileira –sistema em que o poder se concentrava nas mãos de um grupo de pessoas da mesma família.

"O sobrenome ajuda muito, ainda mais neste momento de descrença na política", disse o vereador Romano, 33.

Ele sucede o avô Costábile Romano, ex-prefeito de Ribeirão Preto, e o pai, Marcelino Romano Machado, ex-deputado federal.

Nogueira também é filho do ex-prefeito de Ribeirão Duarte Nogueira, morto em 1990. O deputado iniciou a sua trajetória na política aos 26 anos.

Foi deputado estadual e federal e exerceu cargos no governo do Estado. "Por onde eu ando, até hoje, falam do meu pai", disse.

Na disputa eleitoral, é comum que "herdeiros" usem a imagem de seus ascendestes para impulsionar as próprias candidaturas.

Ricardo Silva fez dobradinha com o pai, o deputado estadual Rafael Silva (PDT), reeleito para o sexto mandato.

Pela cidade, cartazes e cavaletes foram espalhados com a foto dos dois.

"Claro que a figura do meu pai ajuda, mas eu tenho vida própria na política", disse Silva, 29, que não se elegeu deputado federal. A exemplo de Romano, cumpre o primeiro mandato de vereador.

Rossi, 42, candidatou-se pela primeira vez a vereador em Ribeirão aos 19 anos. Teve três mandatos como vereador, antes de se tornar deputado estadual e, agora, deputado federal.

Nem as suspeitas de irregularidades que atingiram o seu pai, o ex-ministro Wagner Rossi (Agricultura), fizeram com que se desvinculasse politicamente dele.

"Tenho muito orgulho da trajetória política dele. Lembro de, ainda moleque, participar de comícios."

No sentindo inverso, entre os mais votados na região está o ex-prefeito e deputado estadual Welson Gasparini (PSDB), que também deixa seu "legado" –seu filho Maurício Gasparini é vereador, cargo já ocupado por outro filho, Gasparini Júnior.

"A ideologia não existe. A trajetória política que eles têm é apenas o sobrenome," diz Marco Antonio Villa, professor de história política brasileira da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).


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