Folha de S. Paulo


Paraplégica, professora volta a dar aula em pé com cadeira adaptada

A pedagoga Rosiléia da Costa Borges,39, ficou paraplégica após sofrer acidente de carro. O ex-marido pediu a guarda do filho alegando que ela não conseguiria cuidar do menino, mas Rosiléia reverteu o caso na Justiça.

Com ajuda, comprou uma cadeira de rodas de R$ 20 mil que a permite ficar em pé e voltar ao trabalho numa escola em Rifaina (a 464 km de São Paulo). Atualmente, mora com os pais e o filho em Minas Gerais.

Silva Junior/Folhapress
A pedagoga Rosiléia da Costa Borges, 39, com cadeira de rodas que a permite ficar em pé
A pedagoga Rosiléia da Costa Borges, 39, com cadeira de rodas que a permite ficar em pé

...Depoimento a
THOMAZ FERNANDES
DE RIBEIRÃO PRETO

Em setembro de 2007, meu pai me convidou para uma festa em uma fazenda em Sacramento (MG). Um pouco antes de ir, minha mãe torceu o pé e eles desistiram.

Deixei meu filho com eles e fui com os meus irmãos para essa festa, na zona rural de Sacramento. Na hora de vir embora, esqueci de colocar o cinto de segurança.

Na estrada, me abaixei para trocar o CD do som, então o volante virou e não vi que o carro saiu da pista. Na hora me assustei, virei o volante novamente, perdi o controle e não lembro de mais nada.

Acordei no Hospital Regional de Franca (a 400 km de São Paulo) e não sentia os membros. Aí veio um médico me dizer que eu teria que fazer uma cirurgia na coluna e que estava paraplégica. Meu filho tinha quatro anos.

Minha lesão foi a fratura de uma vértebra na altura do tórax. Por duas vértebras, não perdi o movimento dos braços também.

Meu ex-marido usou os laudos médicos e entrou com pedido da guarda do meu filho, dizendo que eu não teria condições de cuidar dele.

Três meses depois do acidente, tive de ir a um tribunal provar que podia cuidar do Lucas. Em dois minutos de audiência, o juiz concedeu a guarda para mim. Ele disse que não tinha motivo para ele não continuar comigo.

Contratei uma assistente para ajudar em casa e com o Lucas. Eu conversava com ele, e ele entendia. Sempre foi muito calmo.

Dez meses depois do acidente, consegui uma vaga no Sara Kubitschek, de Belo Horizonte, por um mês. Foi o lugar onde aprendi a viver em uma cadeira de rodas. Fiz a reeducação alimentar e vi que tinha muita gente numa situação pior que a minha.

Ninguém quer ficar assim para o resto da vida, mas, enquanto não tiver uma solução para voltar a andar, é preciso permitir a vida. Ela não para.

Em 2010, já havia a possibilidade de voltar ao trabalho, mas comecei a ter uma série de dores e o médico disse que, em função do esforço físico, tive uma contusão em duas vértebras.

Fiz outra cirurgia, mais delicada do que a primeira. Fiquei de novo três meses na cama. De volta à estaca zero.

Quando retornei ao trabalho, em 2012, ficava em uma sala de multimídia em uma escola em Franca.

Um dia comentei com a fisioterapeuta que o esforço de tentar ficar em pé com a órtese [equipamento usado em tratamento que permite a paraplégicos se levantarem] forçava minha coluna e me machucava. Ela me recomendou essa cadeira, motorizada.

Eu fico em pé sem forçar a coluna. Ela disse que melhoraria meu organismo pela descompressão nos órgãos.

Eu lancei um vídeo no Facebook dizendo que aquela cadeira mudaria minha vida. Para comprá-la, houve uma mobilização entre meus amigos e movimentamos uma rifa de uma novilha. Em um mês, consegui. A cadeira custava R$ 20 mil.

Tudo relacionado à readaptação é caro. Neste ano, decidi voltar, junto com meu filho, a morar com os meus pais em Sacramento.

Me transferi para uma escola em Rifaina, a 36 km. No trabalho, ela me permite escrever na lousa, pegar as coisas no alto.

Foi uma sensação boa poder voltar a falar olho no olho, sem precisar olhar para cima, dar um abraço, enxergar ao longe, em pé, mas minha vontade é poder correr.

Outro dia, vi um aparelho que parece um robô, em que você senta e ele dá os passos. Eu até falei que ia virar uma 'Transformer' loira.


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