Folha de S. Paulo


Com baixa vacinação, Zoonoses de Ribeirão enfrenta queda de funcionários

Sem cumprir a meta de vacinação contra a raiva em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) ainda vê cair ano a ano o quadro de funcionários.

Para especialistas e entidades de proteção animal, a situação contribui para o surgimento de casos da doença na cidade.

Na última semana, depois de dois anos sem registro da doença em São Paulo, a prefeitura confirmou dois casos de raiva canina.

A campanha de vacinação contra a raiva na cidade não atingiu a meta estipulada pela própria Secretaria da Saúde em 2013: vacinou 68% da população de cães e gatos, mas a meta era imunizar 80%.

A vacinação abaixo da expectativa coincide com um "apagão" de agentes do Controle de Vetores. Em 2008, eram 345 profissionais e, neste ano, caiu para 217, o que representa redução de 37%.

Os dados são de relatório de prestação de contas da Secretaria da Saúde.

Márcia Ribeiro - 19.out.2014/Folhapress
Cães no bairro Jardim Salgado Filho 2, em Ribeirão, onde animal infectado com raiva ficava
Cães no bairro Jardim Salgado Filho 2, em Ribeirão, onde animal infectado com raiva ficava

A pasta alega que há animais vacinados em clínicas particulares, o que contribui para não atingir a meta, e que tem impedimentos legais para contratar agentes.

Para Sandra Maria da Silva, coordenadora da comissão de defesa dos animais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o registro de raiva na cidade é reflexo de descaso com a saúde pública.

"É muito triste ver a cidade ter casos de uma doença que já foi praticamente erradicada em todo o Estado. É vergonhoso", disse.

Para Natália de Camargo Lopes, presidente da associação de acolhimento de animais Cãopaixão, além da falta de agentes o CCZ também sofre com falta de veterinários e de estrutura física.

Editoria de Arte/Folhapress

Em 2008, o centro passou a acolher animais vítimas de maus-tratos, abandonados e doentes. Com o acolhimento de cerca de cem animais, o CCZ não passou por nenhuma reforma ou ampliação.

"Com a estrutura que o centro tem, não deveria receber nenhum animal. Além disso, não tem condições de fazer uma cirurgia nos animais machucados nem tem convênio com clínicas para isso", disse Natália.

Segundo o professor virologista da Faculdade de Medicina Veterinária da USP Paulo Eduardo Brandão, a raiva chegou a ser extinta por causa da vacinação.

"Conforme a meta não é atingida a cadeia de imunidade vai se quebrando ao longo dos anos." Segundo ele, a população de animais passa a ficar mais vulnerável.

Para a docente de medicina veterinária da Unesp de Araçatuba Luzia Helena Queiroz, a forma eficaz de combater a raiva é a vacinação, já que não é possível controlar o morcego transmissor do vírus.

"É preciso educação sanitária para que a população notifique casos de agressão de morcegos a cães."


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