Folha de S. Paulo


Justiça 'interna' um a cada 18 horas por drogas na região de Ribeirão

A cada 18 horas, a Justiça obriga a internação de um dependente químico em uma das cinco maiores cidades da região de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

A medida ocorre sem o consentimento do paciente e pode ser solicitada por familiares, pelo Ministério Público ou órgão da saúde pública.

De janeiro a setembro deste ano, as decisões judiciais determinaram às prefeituras de Ribeirão, Franca (a 400 km de São Paulo), São Carlos (a 232 km de São Paulo), Araraquara (a 273 km de São Paulo) e Barretos (a 423 km de São Paulo) a internação de 371 pessoas.

Luis Antonio Damasceno, vice-presidente do Comad (Conselho Municipal sobre Álcool e Drogas) de Ribeirão Preto, disse que o grande número de determinações judiciais demonstram a falta de apoio às famílias.

"O uso de drogas é um problema de saúde pública, que tem uma estrutura precária", afirmou. "As famílias não têm a quem recorrer e os dependentes só são atendidos quando estão em crise, após decisão da Justiça."

Edson Silva/Folhapress
Adolescente internado na primeira unidade de acolhimento infanto-juvenil de Ribeirão feita em parceria com entidade
Adolescente internado na primeira unidade de acolhimento infanto-juvenil de Ribeirão feita em parceria com entidade

A situação, segundo ele, é ainda pior para o atendimento a mulheres viciadas em drogas. Em Ribeirão, maior cidade da região, não há clínicas femininas credenciadas pelo programa Recomeço, do governo do Estado.

O desempregado Fernando César Rodrigues, 43, tenta há dois anos internar a filha de 21 anos. Ela usa crack desde os 15, segundo ele.

"A gente não tem condições de interná-la em clínica particular. A gente tenta vaga em algum lugar público, mas para mulher dizem que não tem", disse Rodrigues.

A jovem chegou a fazer acompanhamento no Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas), mas desistiu. Fernandes disse que, por não receber muita atenção dos profissionais, ela saía do centro e usava drogas.

De acordo com a prefeitura, o Caps tem dois psiquiatras e um neurologista. No entanto, o tratamento no local não é "centrado na figura do médico", mas de uma equipe multidisciplinar, segundo informou, em nota.

Ainda de acordo com Damasceno, a cidade tem uma carência de locais de atendimento 24 horas, que só ocorre nos hospitais estaduais.

Sem vagas públicas, muitas vezes as famílias recorrem a clínicas particulares irregulares. Em agosto, a Folha mostrou que oito das 14 clínicas da cidade não tinham licença de funcionamento.

Além da falta de alvará, as clínicas fazem internação involuntária sem autorização judicial. "Sem ajuda do poder público, as famílias recorrem a clínicas irregulares", disse Damasceno.


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