Folha de S. Paulo


Exposição em Ribeirão Preto retrata e reflete sobre as "faces da morte"

Comuns em cemitérios antigos de pequenas cidades, as fotos em túmulos foram a inspiração para a exposição NotUrna, iniciada nesta quinta (25) no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

São quatro instalações artísticas que trazem fotografias de mortos anônimos, cartas e poemas dentro de malas e caixas.

Os textos são como biografias imaginadas por escritores ao analisar os retratos dos mortos homenageados.

"Há uns quatro ou cinco anos eu estava estudando retratos e fotografei essas fotos em túmulos", disse o artista plástico Lucas Simões.

"Em uma brincadeira, pedi para alguns amigos criarem uma espécie de biografia para esses anônimos."

Foi dessa brincadeira que Simões e a escritora Roberta Ferraz desenvolveram o projeto, que se transformou em um livro e, depois, na exposição artística.

Edson Silva/Folhapress
Visitante do instituto observa objetos de mortos anônimos em uma das caixas expostas
Visitante do instituto observa objetos de mortos anônimos em uma das caixas expostas

Para o livro, os artistas montaram dez "caixas" com fotos de dez mortos anônimos e biografias criadas por Roberta e outros escritores.

Para a exposição, eles selecionaram quatros dessas caixas. De acordo com Simões, a exposição tem o objetivo de estimular uma reflexão sobre a morte, tema que, segundo ele, ainda é evitado por muitas pessoas.

"As pessoas não têm apenas dificuldade em aceitar a morte, mas também de debatê-la, lidar como algo natural", disse o artista.

Edson Silva/Folhapress
No detalhe, objetos de dentro de uma das malas expostas na exposição NotUrna, em Ribeirão
No detalhe, objetos de dentro de uma das malas expostas na exposição NotUrna, em Ribeirão

FOTO COMO MISTÉRIO

João Carlos de Figueiredo Ferraz, fundador do instituto, afirmou que a exposição, apesar de tratar de um tema atraente para poucas pessoas, emociona e estimula a reflexão sobre a morte.

No entanto, a exposição também pretende trazer uma reflexão sobre as interpretações possíveis a partir de uma mesma fotografia.

"As pessoas acham que a foto retrata o momento exato", afirmou, "mas muitas vezes ela mais cria do que resolve um mistério."

Além das instalações artísticas, Simões e Roberta fizeram a curadoria de outras obras de arte do instituto -que tem um acervo de cerca de mil obras-, que refletem sobre a morte e a identidade de pessoas.

Uma delas é uma escultura da artista plástica francesa Courtney Smith, com espelhos dispostos como em uma sanfona.

Edson Silva/Folhapress
Retratos do artista plástico Lucas Simões e da escritora Roberta Ferraz
Retratos do artista plástico Lucas Simões e da escritora Roberta Ferraz

Simões e Roberta também "se colocaram no lugar" dos mortos anônimos que os inspiraram e fizeram seus retratos, como se fossem ser colocados em seus túmulos.

"Foi realmente estranho nos colocar nessa situação, mas ao mesmo tempo é uma posição em que um dia vamos estar", disse Simões.

NOTURNA
Onde: Instituto Figueiredo Ferraz - Ribeirão Preto
Endereço: Rua Maestro Ignácio Stábile, 200, Alto da Boa Vista
Quando: Até 25 de outubro
Horário: De terça a sábado, das 14h às 18h
Quanto: Gratuito


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