Folha de S. Paulo


Ribeirão Preto ainda mantém 65 fazendas do ciclo do café

Escondidas em meio à avalanche de cana-de-açúcar, 65 fazendas de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) ainda guardam características do tempo áureo do café, como casa sede, tulha, terreiro, capela e colônia.

Além de manter a história da formação econômica da cidade, as propriedades contam com moradores que ali nasceram e nunca viveram na área urbana do município —um dos mais populosos do Estado, com 658 mil pessoas.

São filhos de ex-colonos e, possivelmente, a última geração de pessoas que nasceram, cresceram, constituíram famílias e ainda vivem nas fazendas, erguidas entre o fim do século 19 e início do 20.

Edson Silva/Folhapress
Casas da antiga colônia da fazenda Santa Rita, em Ribeirão Preto
Casas da antiga colônia da fazenda Santa Rita, em Ribeirão Preto

Os dados fazem parte de pesquisa que resultou no livro e documentário "Memória dos Cafezais: A Vida nas Fazendas", lançado na última sexta (26) em Ribeirão.

O projeto é de autoria de cinco pesquisadoras do IPCCIC (Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais). As fazendas, todas inseridas dentro do perímetro atual do município, foram mapeadas entre 2011 e 2013.

Segundo a arquiteta Ana Carolina Gleria, as propriedades foram georreferenciadas tendo como base um mapa da década de 1920.

O objetivo foi catalogar as que contavam com pelo menos um dos elementos do complexo cafeeiro (terreiro, tulha, casa de máquinas, colônia, casa sede e capela). Nem todas as fazendas, porém, contam com as edificações preservadas.

As tulhas (galpões para armazenamento dos grãos) das fazendas Serra e Iracema, por exemplo, que foram consideradas grandes núcleos produtores de café, estão completamente abandonadas.

Já na fazenda Cruzeiro, antiga Pau Alto, apenas a casa sede foi demolida. Uma vez por mês ainda há missa na capela, que ganhou ar-condicionado. "Não dá para negar a comodidade", disse Antonio Tomaz, 56, que mora na fazenda desde criança.

Edson Silva/Folhapress
Sede da fazenda Santa Rita onde seis famílias ainda vivem em colônia, como no século passado
Sede da fazenda Santa Rita onde seis famílias ainda vivem em colônia, como no século passado

De acordo com as pesquisadoras, a preservação das fazendas está intimamente associada ao uso delas.

A Santa Luzia, por exemplo, deu espaço ao atual Restaurante da Tulha e é usada como pesqueiro, restaurante, espaço de eventos e também habitação.

Mas a riqueza visual das fazendas está nos pequenos detalhes do passado. A fachada da sede da São Sebastião do Lajeado, por exemplo, ainda conta com ornamentos feitos de madeira.

Já a varanda da sede da fazenda Santa Rosa tem os ladrilhos originais, enquanto que, na Boa Vista, os azulejos franceses ainda compõem o cenário da cozinha.


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