Folha de S. Paulo


Doença em pomares dos EUA traz esperança a citricultores no Brasil

Grande responsável pelos prejuízos de safras anteriores no Brasil, o greening atingiu e comprometeu a safra de laranja da Flórida (EUA). O Estado norte-americano é o maior concorrente dos produtores brasileiros.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a safra deste ano foi de 104,6 milhões de caixas, o menor volume em 29 anos. Estimativas já apontam que para a próxima safra, o volume de frutas deve ser ainda menor– cerca de 96 milhões de caixas.

Para os produtores brasileiros, que sofreram nos últimos dois anos com safras elevadas e doenças nos pomares (greening e cancro), e, neste ano, com a falta de chuvas, a quebra da safra americana pode ser a "esperança" de alta no preço da fruta.

Márcia Ribeiro - 1º.set.2014/Folhapress
Operário em trator faz pulverização em pomar de Ibitinga, na região de Ribeirão Preto
Operário em trator faz pulverização em pomar de Ibitinga, na região de Ribeirão Preto

Para Flávio Viegas, presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), o aumento da exportação depende da demanda pelo suco de laranja brasileiro.

"Cria-se uma expectativa de melhores preços no próximo ano, já que eles terão que complementar a produção deles com as nossas frutas", disse Viegas.

A Citrus-BR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), no entanto, disse que a perspectiva de aumento da demanda pelo suco brasileiro é pequena.

Para Marco Antônio dos Santos, presidente da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura, os produtores devem progressivamente sentir o aumento da procura pela fruta.

"A quebra da safra americana não terá um impacto a curto prazo e nem vai recuperar as perdas deste ano. Mas pode ser o início de uma recuperação do setor", disse.

Editoria de Arte/Folhapress

Neste ano, os produtores brasileiros tiveram prejuízo com a estiagem, que reduziu o tamanho dos frutos. Menores e com menos água, as laranjas são mais vantajosas para a indústria de suco, responsável pela compra de 80% da safra brasileira.

Por isso, a laranja ficou mais leve –o que é prejudicial para o produtor que vende por peso. Frauso Sanches, produtor em Ibitinga (a 347 km de São Paulo), disse que a previsão é de que as frutas continuem pequenas na próxima safra.

"A falta de chuva desse ano vai impactar na próxima safra, porque a planta está estressada e sem reserva nutricional. Ela não vai conseguir segurar ou desenvolver um fruto muito grande", disse Sanches, que estima ter perdido até 30% de sua safra.

O produtor estimava produzir 220 mil caixas, mas com a estiagem só produziu 150 mil caixas do fruto.

Fernanda Palmieri, analista de mercado de cítricos pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, disse que a procura americana pelos frutos brasileiros deve render uma melhora no preço pago aos produtores.

Com um custo de cerca de R$ 18 por caixa, hoje, eles recebem R$ 10. "Não dá para prever quanto e se o preço do próximo ano vai cobrir os custos dos produtores. Mas o valor vai aumentar e dar uma aliviada", disse ela.


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