Folha de S. Paulo


Nível do rio Pardo cai, afeta geração de energia e provoca embate

O rio Pardo atingiu apenas 39 centímetros de profundidade nesta terça-feira (9) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), menor nível desde o início da medição, em 1941. O rio também nunca produziu tão pouca energia elétrica como agora.

Os problemas são reflexo da seca recorde no interior de São Paulo e acabaram acirrando um embate entre a necessidade de captação de água na região e interesses do setor hoteleiro.

Enquanto o comitê da bacia hidrográfica pede o aumento da vazão do rio, a partir da represa de Caconde (a 288 km de São Paulo), os setores de piscicultura e turismo pedem retenção da água no mesmo ponto.

O reservatório da hidrelétrica de Caconde está com 8,8% do volume, seu menor índice. A usina está localizada na montante, ou seja, próxima à nascente do rio.

A AES Tietê, responsável pela usina, disse que a vazão de água usada para gerar energia caiu a partir de junho –de 32 m³/segundo para 15 m³â€“ devido às "más condições hidrológicas" do Pardo, para evitar maior redução do reservatório.

Silva Júnior/Folhapress
Reservatório da hidrelétrica de Caconde, que está com 8,8% do volume, seu menor índice
Reservatório da hidrelétrica de Caconde, que está com 8,8% do volume, seu menor índice

Com isso, a geração de energia na usina foi reduzida. Com capacidade para produzir 80 MWh, gera 10 MWh –nunca foi tão baixa.

Mesmo assim, segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o reservatório recebeu nesta terça 10 m³ por segundo de água e liberou 15 m³.

A medida é criticada por associação de piscicultores e de turismo de Caconde.

"Estão liberando mais água [para energia] do que o reservatório recebe. Nós vamos ser prejudicados e ficar só com uma lâmina de água no reservatório", disse Paulo Podesta, que aluga casas em um condomínio para turistas.

Ele e outros moradores pedem que a AES reduza novamente o volume liberado.

Já Paulo Finotti, vice-presidente do comitê da bacia do Pardo, disse que é preciso aumentar o volume de água liberada para elevar o nível do Pardo, responsável por abastecer cidades da região.

"Com uma estiagem como a deste ano, acredito que o abastecimento deva ser priorizado", disse Finotti.

A alta ou redução do volume de água liberada depende de aval e do cronograma do ONS e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Além de Caconde, o Pardo tem outras duas usinas em seu leito. Elas, no entanto, não têm reservatório e sua produção depende da liberação de água em Caconde.

O Pardo, nesta época, historicamente fica acima de um metro. "Não adianta ter um reservatório vivo com produção de energia e, a partir dele, um rio morto."


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