Folha de S. Paulo


Maioria das clínicas para usuários de drogas está ilegal em Ribeirão Preto

Oito das 14 clínicas terapêuticas para dependentes químicos de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) não têm licença para funcionamento, segundo a Vigilância Sanitária do município.

As clínicas estão na mira do Ministério Público, que abriu um inquérito civil para apurar a situação a que os pacientes estão submetidos.

Uma delas, Desafio Jovem Vale do Beraca, funciona há 19 anos sem alvará. É a única que recebe os dependentes sem cobrar pelo tratamento.

A abertura da investigação foi motivada por informações e denúncias encaminhadas à Promotoria, disse o promotor Sebastião Sérgio da Silveira.

Dados enviados pela Vigilância ao promotor apontam que, de todas as clínicas irregulares, quatro delas foram notificadas a fechar.

Edson Silva/Folhapress
Dependente químico em tratamento na clínica Desafio Jovem Vale do Beraca, em Ribeirão, faz oração perto de árvores
Dependente químico em tratamento na clínica Desafio Jovem Vale do Beraca, em Ribeirão, faz oração perto de árvores

Duas clínicas –Associação Comunidade Terapêutica Luciana Penteado, na unidade Lagoinha, e Fonte de Elin– não protocolaram o pedido para obter a licença de funcionamento.

Já outras duas –uma das unidades da Cetrad (Centro de Tratamento e Recuperação em Álcool e Drogas), no Recreio das Acácias, e a Firmamento Soluções– estão em processo de regulamentação na prefeitura.

O Projeto LSD (Liberdade Sem Drogas), que atendia no Parque Industrial Tanquinho, se mudou e a Vigilância não sabe o local onde atua agora.

"Há um problema geral de falta de resoluções específicas, com normas a serem seguidas", disse Silveira.

INTERNAÇÃO

Segundo ele, além da falta de alvará, outro problema acontece com a maior parte das clínicas do município: a internação involuntária de forma irregular.

Editoria de Arte/Folhapress

Esse tipo de internação, contra a vontade do paciente, somente pode ser feita por hospitais (o que não é o caso das clínicas), ou mediante autorização judicial.

Mas, na prática, em Ribeirão as internações involuntárias são feitas sem que a Justiça seja consultada, de acordo com o promotor.

"Fiquei chocado quando soube, pelos próprios diretores de clínicas, o que é feito para levar o paciente de forma involuntária", disse.

Nos relatos, foi informado que há o uso da força, principalmente nos casos de resistência dos pacientes.

Em abril, Samuel Ribeiro Lima, 34, foi preso pela polícia de Uberlândia (MG) após ter internado, à força, um dependente químico de 34 anos.

Lima tinha uma clínica em Ribeirão Preto que funcionava sem alvará e tinha 22 pacientes. O local foi lacrado.

No último dia 15, três voluntários do Cetrad –que aguarda o alvará da prefeitura– foram presos por suspeita de tortura contra um paciente que tentou fugir.

Márcia Macei, presidente da Associação de Parentes e Amigos de Dependentes Químicos de Ribeirão Preto, disse que a internação involuntária é uma prática comum.

Em janeiro, o filho dela foi internado no Cetrad, após ter uma recaída com as drogas. "Como mãe, eu não ia deixar o meu filho naquela situação [das drogas]." Segundo ela, o preço cobrado pelas clínicas é de R$ 10 mil, em média, pelo período de seis meses.


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