Folha de S. Paulo


Cidades do interior de SP 'importam' água para evitar desabastecimento

Ao menos seis cidades do interior de São Paulo estão "importando" água de represas privadas para evitar o desabastecimento devido à seca inesperada do início do ano e que agora se agrava.

A medida, porém, não impediu os municípios de adotarem o racionamento de água. O motivo é a incerteza de quando os reservatórios voltarão ao nível normal para atender a população.

Na região de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), quatro cidades vizinhas passaram a captar água em reservatórios particulares.

Tambaú (255 km de São Paulo), município que decretou estado de emergência na quinta-feira (3), há dois meses capta água de quatro represas particulares.

A prefeitura iniciou há três meses o racionamento para garantir o consumo de 15 milhões de litros por dia.

Em dias alternados, metade da população de 23 mil habitantes fica 15 horas sem água.

Santa Rita do Passa Quatro (248 km de São Paulo) faz racionamento há três meses e capta água há cinco meses de uma represa a 7,5 quilômetros da cidade.

Em Santa Cruz das Palmeiras (241 km de São Paulo), a captação de água em uma represa particular corresponde a um terço do consumo dos 32 mil moradores.

Em racionamento, a cidade passou a captar água em uma fazenda há 30 dias.

"A cidade consome 240 m³ por hora e captamos cerca de 80 m³ por hora na represa. Se não fosse isso, estaríamos perdidos", disse Antonio Paulo Rosolen, diretor administrativo de Santa Cruz.

Edson Silva/Folhapress
Lagoa localizada no bairro Jardim dos Lagos, em Ribeirão Preto, que auxilia na recarga de aquífero
Lagoa localizada no bairro Jardim dos Lagos, em Ribeirão Preto, que auxilia na recarga de aquífero

Em Casa Branca (229 km de São Paulo), a administração capta água de um açude particular para abastecer uma região com 5.000 habitantes –cerca de 15% de sua população.

No entanto, busca recursos dos governos estadual ou federal para executar uma obra de R$ 700 mil –o valor corresponde a 11,7% do orçamento do município– para captar água em uma represa.

Segundo o engenheiro Luiz Carlos Bueno, o açude deve suportar o abastecimento por apenas mais alguns meses.

Em Franca (400 km de São Paulo), desde abril, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) adotou um sistema formado por dois poços profundos para captação em Restinga (389 km de São Paulo), cidade vizinha.

A cidade capta água nos rios Canoas e Pouso Alegre.

O abastecimento pelos poços é considerado uma "carta na manga" para enfrentar os meses de agosto e setembro, após a estiagem inesperada do começo do ano.

Em Sorocaba (99 km de São Paulo), com 600 mil habitantes, a prefeitura está captando água de uma represa particular para abastecer os 60 mil habitantes do Distrito Industrial.

Segundo Fábio de Castro Martins, diretor do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), o reservatório do distrito nessa época do ano costuma ter de 1,5 a 2 metros de altura. Na semana passada, atingiu 40 centímetros.

"Com a captação nessa fazenda, já alcançamos um nível de 70 centímetros. Negociamos captar em outra fazenda", disse Martins.

RIO PARDO

Com registro de 50 centímetros de profundidade, o rio Pardo atingiu em Ribeirão Preto o menor nível desde 1941, quando o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) iniciou a medição.

Casa Branca, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Rita do Passa Quatro e Tambaú tem a captação pelo rio Pardo e seus afluentes, por isso estão com dificuldades de abastecimento.

"Essa região sofre sem águas subterrâneas. Mesmo os poços têm pouca profundidade e captação limitada", disse Carlos Alencastre, do DAEE.

No entanto, mesmo cidades que têm seu abastecimento garantido pelas águas subterrâneas, como Ribeirão Preto, que capta água do aquífero Guarani, precisam ficar alertas.

O DAEE acompanha o nível em áreas de recarga. Na lagoa de recarga do aquífero, o nível é um dos mais baixos dos últimos dez anos.


Endereço da página: