Folha de S. Paulo


Campanha é teatro, diz livro de deputado do PSB de Franca (SP)

"Grandes entrevistados respondem o que querem e não o que perguntaram"; "crie fatos políticos"; "o interesse social se subordina aos interesses políticos"; "nunca seja culpado de nada".

As afirmações acima são alguns dos "conselhos" de um livro que tem como coautor o deputado federal Marco Aurélio Ubiali (PSB), de Franca (400 km de São Paulo). A obra foi publicada no final do ano passado pela Fundação João Mangabeira, do partido do pré-candidato à presidência da República Eduardo Campos.

O livro "Marketing Político - Administrando o Gabinete", "feito para andar no bolso do candidato", foi escrito por Ubiali em parceria com o professor universitário Sérgio Motti Trombelli.

Edson Silva/Folhapress
O deputado federal Marco Aurélio Ubiali (à dir.), ao lado de Eduardo Campos, em Franca
O deputado federal Marco Aurélio Ubiali (à direita), ao lado de Eduardo Campos, em Franca

Com 2.000 exemplares, o livro orienta o candidato recém-eleito a escolher as pessoas que irão trabalhar em seu gabinete, mas também dá dicas de como ele deve agir antes e depois de eleito.

O livro diz que a campanha eleitoral é um "teatro" e que, para se eleger, o candidato precisa fazer promessas.

"Durante a disputa, fala-se demais e, na busca da vitória, os discursos são generosos. Lembre-se que gogó e papel aceitam tudo, inclusive promessas mirabolantes", diz um dos trechos.

Questionado, Ubiali disse que não teve pretensão acadêmica ou de ensinar como fazer política. Porém admitiu que a publicação foi alvo de críticas até no partido.

"Meus colegas criticaram, vinham para mim e diziam: 'Ubiali, não conta isso para os outros não. É assim mesmo [que a política funciona], mas não conta isso para os outros'", contou o deputado.

Ubiali é médico e está no segundo mandato de deputado federal. Apesar das dicas sobre marketing político, teve êxito em apenas uma das cinco eleições que disputou –suplente, assumiu no meio de um dos mandatos.

Disputou o cargo de deputado federal pela primeira vez em 2002, mas perdeu.

Foi eleito em 2006 com 84 mil votos. Em 2010, teve 11 mil votos a menos e assumiu o mandato como suplente. Disputou duas vezes a Prefeitura de Franca, mas nunca ultrapassou 25% dos votos.

O livro também dá dicas de como o político deve buscar ser nomeado para secretarias e órgãos ligados ao governo. "São feudos políticos que passam a agir a bem do serviço público (esta é a sua função, mas a bem também de alguns senhores feudais)."

Campos vem defendendo o fim do que chama de a "política velha, política de balcão". E diz que, se eleito, irá romper com "fisiologismos, patrimonialismos, das políticas atrasadas da velhas raposas", segundo disse em Franca, cidade de Ubiali, em visita no dia 29 de maio.

Para Trombelli, que é consultor de marketing de candidaturas, apesar de criticar a forma de política descrita pelo livro, Campos se utiliza de todos os "recursos possíveis de marketing".

"Desde o sorriso, a simpatia, a forma de se vestir. Muitas vezes esse é um discurso marqueteiro", disse. "Quantos candidatos já não falaram que vinham para romper com essas práticas e depois usaram a mesma lógica política?", questionou.

O pré-candidato Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, não quis comentar o livro, pois disse não ter lido.

"Não faço parte do conselho editorial da fundação", afirmou. "Existe liberdade de expressão no partido."


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