Folha de S. Paulo


Ex-símbolo do desenvolvimento, Mogiana exibe destruição da memória ferroviária

Outrora símbolo do desenvolvimento econômico do interior do Estado, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro preserva hoje só resquícios de estações, pontos de parada e trilhos.

As antigas estações, surgidas a partir de 1875, praticamente inexistem ou estão, em muitos casos, abandonadas ou servindo de moradia.

A malha ferroviária, se preservada e melhorada, poderia servir para o transporte, mas foi abandonada e praticamente não há passageiros –a não ser alguns trens turísticos, em pequenos trechos.

Das 52 estações que existiram entre Campinas, onde começava a Mogiana, e Ribeirão Preto –então capital do café–, a situação é desoladora, com 17 estações demolidas, nove abandonadas e outras nove servindo de moradia, algumas em estado ruim.

Só 15 são usadas por órgãos públicos –museus, prefeituras, escola ou repartições policiais–, e outras duas abrigam depósito e oficina.

A Folha percorreu as antigas estações da Mogiana entre Campinas e Ribeirão. A maioria não tem trilhos desde a década de 80 e é tomada por mato alto, pichações, vidros quebrados e falta de telhado. É o caso da estação Santos Dumont, em Santa Rosa de Viterbo, por exemplo.

"Com bom uso são poucas estações. Geralmente as reformadas são as estações centrais, mas mesmo algumas delas foram demolidas", afirmou o pesquisador ferroviário Ralph Giesbrecht.

Casa Branca é um exemplo: das oito estações que chegou a ter, cinco foram demolidas ou estão abandonadas. Uma é moradia e outras duas abrigam uma associação e um órgão público.

"Encontramos as estações destruídas, invadidas. A recuperação delas é um trabalho difícil e sabemos que não tem chance de o poder público nos ajudar, porque falta interesse", disse Vanderlei Alves da Silva, gerente da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).

A ABPF opera a ferrovia turística de 24 quilômetros entre a estação Anhumas, em Campinas, e Jaguariúna. São das poucas preservadas.

Presidente do Instituto da História do Trem, Denis William Esteves criticou o que considera falta de interesse do poder público e ressaltou o caso de Ribeirão.

"Ribeirão jogou no lixo sua história. O ano de 1883 [chegada da Mogiana] é um marco para a cidade."


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