Folha de S. Paulo


Chefe do Daerp nega sabotagem ao abastecimento em Ribeirão Preto

Dois meses após assumir o comando interino do Daerp (autarquia de água e esgoto) de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), o secretário da Administração, Marco Antonio dos Santos, afirmou na manhã desta segunda-feira (7) que não há indícios de sabotagem nos poços de água que abastecem a cidade.

A declaração foi dada quase um ano depois de a campanha da prefeita Dárcy Vera (PSD) ter afirmado que a falta de água na cidade ocorria por sabotagem no sistema de abastecimento. Sem citar nomes, ela culpou adversários políticos pela suposta sabotagem.

"Não dá para concluir que houve sabotagem", disse Santos durante a CEE (Comissão Especial de Estudos) do Daerp.

Após assumir o comando interino da autarquia, em julho passado, Santos instalou sindicâncias para apurar as suspeitas.

A suposta sabotagem foi inclusive motivo para a instalação da CEE, proposta pelo vereador Walter Gomes (PR), do partido que comandava o Daerp desde 2009, quando Dárcy assumiu a prefeitura.

Indicado pelo PR, o ex-superintendente do Daerp Marcelo Galli foi demitido em julho quando a falta de água atingiu 100 mil pessoas num único final de semana.

Edson Silva/Folhapress
O superintendente interino do Daerp, Marco Antonio dos Santos, presta esclarecimentos na CEE do departamento da Câmara
O superintendente interino do Daerp, Marco Antonio dos Santos, presta esclarecimentos na CEE do departamento da Câmara

"Numa sindicância você tem que saber a autoria, como foi feito. Às vezes o servidor acha que foi um ato de sabotagem, mas não aponta quem poderia ser. Não há autor", afirma.

Gomes, que preside a CEE do Daerp, também afirmou, na última quinta-feira (3), que não acredita que tenha havido sabotagem.

Apesar de não confirmar a existência de sabotagem, Santos diz que depois das denúncias virem a público os casos de mau funcionamento das bombas diminuíram. "Algo que era recorrente [em 2012] parou de acontecer", diz.

O secretário foi ouvido na reunião desta segunda-feira (7) da CEE. Ele foi questionado pelos vereadores sobre o depoimento de um engenheiro do Daerp à comissão, que acusava um dos diretores da autarquia de instalar uma bomba defeituosa em um poço.

Santos afirmou que o caso é investigado por sindicância no Daerp, mas que o diretor negou o fato e que seria difícil apurar a veracidade da denúncia.

"Você não consegue identificar, depois que a bomba está lá [no poço], se ela já estava defeituosa", diz.

DÍVIDAS A RECEBER

Aos vereadores, Santos também afirmou que o Daerp tem um passivo de cerca de R$ 150 milhões em dívidas de consumidores, inclusos aí também empresas e órgãos públicos.

Mais tarde, a assessoria de imprensa do município informou que a dívida é de R$ 114 milhões.

Segundo o assessor jurídico do Daerp, Daniel Brondi, já foram ajuizadas cerca de 15 mil ações de cobrança na Justiça, relativas a dívidas pendentes dos últimos cinco anos.

Parte da dívida que o departamento tem é com a própria prefeitura. No ano passado, o município devia ao Daerp R$ 66,6 milhões.

Como a Folha revelou em 2012, apesar dessa dívida, o Daerp pagou à prefeitura R$ 11 milhões.

O valor referia-se a sete imóveis que pertenciam ao Executivo e foram "vendidos" ao Daerp. A negociação foi feita apesar de o setor jurídico do departamento ter recusado a transferência.

O setor jurídico do Daerp disse, na ocasião, que a autarquia deveria abater a dívida da prefeitura e não transferir o dinheiro. A Justiça chegou a bloquear a transação.


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