Folha de S. Paulo


A política é nojenta, afirma ex-presidente do PR de Ribeirão Preto

O empresário e ex-superintendente do Daerp Luiz Joaquim de Oliveira Antunes que deixou na semana passada a presidência do PR de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), diz que está "cansado" da política e que saiu da sigla para cuidar dos negócios próprios.

"Não tenho mais saco. Tô de saco cheio", disse Antunes, em entrevista na qual chamou a política de "nojenta". Apesar da declaração, uma de suas empresas presta serviços ao município.

Questionado pela reportagem sobre o fato de ele dar ordens no Daerp mesmo depois de sua demissão, segundo reportagem da Folha de setembro de 2012, ele não negou. "E [eu ia lá] depois, para ver como estava, resolver outras coisas".

Ele conversou com a Folha na manhã desta sexta-feira (4), antes da notícia da filiação do empresário Maurilio Biagi Filho ao PR. À noite, questionado pela Folha, ele disse desconhecer a filiação do usineiro.

Confira os principais trechos.

*

Folha: Por que o senhor deixou a presidência do PR?
Luiz Joaquim de Oliveira Antunes: É a falta de verdade nas coisas. Os caras insinuam muito.

O senhor se refere à relação que é feita entre o partido e o Daerp?
O que eu tenho com o Daerp? A maioria da diretoria [do órgão] quem nomeia é a prefeita Dárcy Vera. Eu não tenho mais saco. Eu não aguento mais essa encheção de saco de vincular o Daerp a meu nome. Eu não tenho mais saco pra isso. Pra escutar isso. Tô de saco cheio.

Silva Junior/Folhapress
O ex-superintendente do Daerp Luiz Joaquim Antunes deixa sede da Prefeitura de Ribeirão Preto
O ex-superintendente do Daerp Luiz Joaquim Antunes deixa sede da Prefeitura de Ribeirão Preto

Há quanto tempo o senhor está na presidência do partido?
Acho que há mais de 20 anos.

E agora o senhor vai sair do cenário político?
Eu estou cansado da política, nojenta. Eu vou escrever um livro, que vai contar os bastidores da política.

O senhor não vai mais participar de campanhas políticas?
Por enquanto eu não quero nem escutar falar em política.

Vincular o PR com o Daerp te incomoda?
Lógico que incomoda. Digo isso porque 90% dos cargos de confiança no Daerp são nomeados pela prefeita.

E os superintendentes?
A não ser eu, não teve outro superintendente filiado ao PR. Nem o Joaquim [Joaquim Ignácio da Costa Neto, que comandou o órgão de julho de 2010 a novembro de 2012], nem o Galli [Marcelo Galli, que ficou a frente do Daerp de novembro do ano passado a julho deste ano], nem o Tanielson [Tanielson Wagner Cristiano Campos, superintendente de abril de 2009 a julho de 2010]. Veja se eles são filiados?

O partido não indicou os superintendentes, então?
Na verdade, o partido indicou o Galli, que é engenheiro, para um cargo. Aí, depois, houve a necessidade de um superintendente e ele foi lá tapar buraco.

E o Joaquim Ignácio?
É um cara que estava no Daerp há aproximadamente 20 anos. E quando eu saí, citamos o nome dele. Aí a prefeita resolveu efetivá-lo [como superintendente]. Não é que o PR dizia "é pra fazer isso, é pra fazer aquilo", entendeu?

Então é mentira quando a imprensa noticia que o PR indicou superintendentes e funcionários que ocupam cargos de confiança no Daerp?
Deixa eu falar, o PR indicou alguns técnicos, que nem filiados ao partido são. Sabe como você chega a essa conclusão? Verifique quantas pessoas trabalham no Daerp e são filiadas ao PR. Acho que nenhuma.

As indicações são de pessoas técnicas, apenas?
Técnicas. Nem filiados ao PR são.

Há quantos funcionários no Daerp filiados ao PR?
Nenhum.

Então, são pessoas conhecidas do partido?
Há muitas pessoas lá que chegaram para pedir emprego. E se tinha vaga, o Daerp empregava. Mas aí falam que eram do PR. Eu acho até que o partido foi muito burro porque deveria ter aproveitado esse ganho para crescer politicamente. O Daerp melhorou muito. O fato é que muitas vezes foi pedida a opinião do PR para outros órgãos, por que? Porque o PR é um partido que tem vereadores, que milita na cidade. É uma coisa natural. Faz um levantamento em outros departamentos da prefeitura para ver quantas pessoas são filiadas a partidos políticos? Aí, vai no Daerp, e vê quantos filiados existem ao PR.

O senhor foi visto dentro do Daerp. Funcionários disseram que o senhor dava ordens lá.
Alguns funcionários falaram. Muita gente não gosta de mim.

O que o senhor fazia lá?
Quando eu ia ao Daerp? Me diz. Eu tenho mais coisa para fazer. Eu trabalho até as 11 da noite.

Então o senhor não ia ao Daerp?
Eu ia muitas vezes, quando era superintendente. E depois, para ver como estava, resolver outras coisas. O problema na política é que plantam muita notícia. Tem muito fogo amigo. As pessoas não têm capacidade de chegar e falar na cara, olhar olho no olho.

E sobre sua saída?
Saí para resolver uma calúnia que fizeram aí. Que devia R$ 54 mil de água. Eu que entrei na Justiça quando o Daerp me mandou aquela conta, naquele prédio, para apurar se aquilo era verdade ou não. Eu é que movi a ação contra o Daerp. Não foi o Daerp contra mim. Estava sendo discutido em Justiça, aí o juiz fala: paga-se. O que se faz? Paga-se. Ou, não paga-se. Para isso existe a lei, para isso existe a Justiça.

Agora, o senhor quer descansar?
Sim. Tenho uma atividade profissional ferrenha.

Não vai disputar nenhum cargo?
Completamente fora de cogitação.


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