Folha de S. Paulo


Falta de política municipal faz favelas crescerem, afirma João Gandini

Idealizador do programa Moradia Legal, o juiz aposentado João Gandini, 57, afirmou que o número de favelas em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) voltou a crescer e atribui esse aumento à falta de uma política de prevenção de formação de novos núcleos.

Terceiro colocado nas eleições do ano passado pelo PT, Gandini foi derrotado pela prefeita Dárcy Vera (PSD), reeleita, e pelo deputado federal Duarte Nogueira (PSDB). Ele acaba de se transferir para o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

"O que percebo é que a prevenção está muito ruim. Quando começamos o Moradia Legal [em 2008], tínhamos 34 favelas e 19 mil moradores. Acabamos com 14 favelas, deveríamos ter 20 agora, mas não. Temos mais de 40 e mais gente chegando", disse.

Edson Silva/Folhapress
O juiz aposentado João Gandini, que trocou o PT pelo PSB, dá entrevista em seu escritório, em Ribeirão, no interior de São Paulo
O juiz aposentado João Gandini, que trocou o PT pelo PSB, dá entrevista em seu escritório, em Ribeirão, no interior de São Paulo

Gandini prepara o lançamento da sua candidatura a deputado estadual pelo partido. Será apresentado ao PSB no próximo sábado, num evento na Câmara de Ribeirão.

O ex-petista não esconde, porém, seu projeto político de ocupar, em 2017, o cargo de prefeito.

Para isso, Gandini não descarta, inclusive, uma parceria com o PT, partido criticado por ele pelo "imobilismo". "Ou eu vou ser prefeito ou eu vou ser prefeito", disse o pessebista.

Confira os principais trechos da entrevista.

*

Folha - O sr. vai concorrer a uma vaga para deputado estadual?
João Gandini - Eu acho que sim, é natural. Nas circunstâncias em que é feita a política e como terminei a última eleição, com quase 46 mil votos, é natural que o nome da gente seja ventilado, quase como uma exigência.

Como foi sua saída do PT e sua entrada no PSB?
Eu tenho uma relação magnífica com o PT. Não tivemos discussão, briga. Continuamos amigos. Acontece que eu percebi que o PT de Ribeirão Preto, embora tenha grandes quadros, grandes amigos, vive um momento de imobilismo, as coisas não acontecem.

Eu não via grandes perspectivas de mudanças profundas na forma de direção do partido, de agir.

Então não havia sentido ficar no PT, apesar da votação que eu tive, apesar das amizades, apesar de ser muito grato ao PT pela oportunidade que tive de ser candidato a prefeito.

Em que momento o PSB entrou?
A partir do momento que terminaram as eleições, o ex-deputado Corauci Sobrinho (PSB) me procurou formalmente e disse: "Se você for sair do PT, estamos aqui de braços abertos pra te receber".

Fomos conversando até que uma hora fui chamado a São Paulo para conversar com o deputado federal Márcio França, presidente estadual do PSB, e depois fui levado para conversar com o Eduardo Campos.

Então na conversa com o Eduardo Campos nós fechamos a parceria. Mais do que um convite, foi um desafio.

Que desafio?
O PSB quer assumir um protagonismo e, no principal Estado da nação, não dá para pensar em estar muito desorganizado. Então me foi dada a missão de reorganizar, dar efervescência para novos voos nacionais.

E como tenho uma familiaridade com as áreas da saúde, educação, habitação, que são áreas em que atuei muito, o Eduardo me pediu para que eu fizesse parte das discussões nacionais.

Como o sr. avalia a habitação hoje?
Nunca se construiu tanto, tanto casas quanto apartamentos populares. Isso tem que ser incentivado, tem que continuar. Mas o que tenho percebido é que, no sentido da prevenção, está muito ruim.

Quando começamos o programa Moradia Legal aqui [Ribeirão Preto], nós tínhamos 34 favelas e 19 mil pessoas morando em favelas. Acabamos com 14 favelas, deveríamos ter 20, mas não. Temos 40 e tanto, e mais gente vindo para a favela porque não tivemos prevenção.

Por que o sr. não venceu as eleições municipais?
Quando fizemos uma pesquisa, eu era conhecido por 14% da população, o Nogueira, por 93% e a Dárcy, por 99%. Esse era o meu cenário.

E eu era conhecido por 14% quando você juntava o João Gandini, o dr. Gandini, o juiz Gandini, o professor Gandini...

Outro aspecto das eleições é que você teve dois profissionais da política. A Dárcy é uma fera, em termos políticos, e o Nogueira tem anos como deputado. Ela tinha a máquina pública municipal, ele, a estadual.

O sr. vai buscar o apoio do PT em 2016?
Política é como nuvem. Cada vez que você olha, ela está diferente. Gostaria do PT perto de mim em 2016.


Endereço da página: