Folha de S. Paulo


Chaim busca expansão até para Estados Unidos e México

Com o negócio que lhe rendeu R$ 615,3 milhões em dinheiro e ações do grupo educacional Estácio, o fundador do grupo Seb, Chaim Zaher, 59, quer agora ampliar sua atuação no ensino básico.

Ele negocia a aquisição de dois grupos --um no Rio de Janeiro e outro em Recife-- que podem agregar 10 mil alunos aos 30 mil da rede Seb-COC em sete Estados. Está previsto o investimento em escolas bilíngues em Ribeirão Preto, Salvador (BA) e Curitiba (PR).

"Até no México e nos Estados Unidos estou procurando escolas. Quero consolidar o grupo na América Latina."

Zaher diz querer se antecipar à onda de aquisições do ensino básico que ele prevê no futuro, como a ocorrida no ensino superior.

"Não vão me pegar desprevenido", diz.

Mariana Martins/Folhapress
O grupo Uniseb, de Chaim Zaher, foi vendido para a Estácio por R$ 615,3 milhões
O grupo Uniseb, de Chaim Zaher, foi vendido para a Estácio por R$ 615,3 milhões

O movimento marca a volta de Zaher à sua origem empresarial, quando, na década de 1970, se tornou franqueado da rede Objetivo, atuando do ensino fundamental ao pré-vestibular.

O empresário atua há 14 anos no ensino superior. Leia, a seguir, trechos da entrevista à Folha, um dia após o anúncio da venda da Uniseb.

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Folha - O senhor se firmou no mercado com os cursos de pré-vestibular. Esse deixou de ser o foco?
O problema do pré-vestibular hoje em dia é que há muitas faculdades, e aquilo que era difícil para o aluno entrar, já não é mais. Hoje Ribeirão tem quatro faculdades de medicina. Diria que o cursinho hoje ou é para entrar nas públicas, ou em medicina. Porque para os outros cursos, o aluno tem condição com um bom colegial.

O ramo deixou de ser um bom negócio?
Já não dá mais escala [o negócio]. Por isso vendi o sistema de ensino [COC]. Não é que o pré-vestibular acabou, ele vai diminuir, como vai diminuir muita coisa daqui para a frente.

Qual o foco hoje de oportunidade de negócios na educação?
O que pode mesmo crescer é o ensino a distância. É por isso que a Estácio veio nos procurar. O ensino a distância hoje tem permitido grandes retornos. Quase 30% a 40%, enquanto na educação básica você trabalha com um retorno de 10% a 15%, no máximo. E no curso superior presencial também é isso. A grande tendência do ensino a distância é de crescimento.

Como conciliar a expansão com a qualidade?
Isso é um pouco de mito, porque depende do aluno. Por exemplo, o aluno que estuda nas públicas. Dizem que lá [as públicas] são melhores. Não é que as faculdades são melhores, melhor é o aluno que vai para lá. E no ensino a distancia tem todo tipo de aluno. Desde aluno que quer ensino a distancia porque quer trabalhar durante o dia. Mas se engana, porque tem muita pesquisa, trabalhos. Quem quer, estuda muito. Quem não quer, não vai estudar de jeito nenhum. Então a qualidade depende do aluno. A quantidade com qualidade é uma coisa meio difícil, mas não é impossível. Tem condição também de ter um excelente professor que possa atingir milhares de alunos, coisa que você não consegue numa sala regular.

Com essas diversas aquisições, como o senhor vê o futuro da educação privada no Brasil?
Se não pode combatê-lo, una-se a ele. Ou você consolida ou é consolidado. Ou você faz uma parceria e abre mão de ter o controle, e tem menos participação [acionária], mas amplia sua participação [no mercado].

Há risco de concentração no setor?
É a tendência, com certeza. Não vão sumir os pequenos, mas eles vão continuar pequenos. Você vai ter no máximo seis, sete grupos grandes e muitas médias e pequenas.

Isso é bom para a educação?
Não é ruim. Porque como os grandes grupos buscam resultado, eles investem para ter resultado. Eles não fazem investimento a curto prazo, fazem a 10, 20 anos. Coisa que os pequenos não fazem porque não têm dinheiro para investir. É isso que você tem que entender. Ou você tem condições de fazer investimento e consegue fazer com recurso próprio ou vai buscar no mercado, o que custa muito caro, e por isso muitos quebraram.

E como fica o setor?
Vai ter espaço para os dois. Vai ter o público que não abre mão do presencial, tem o que quer fazer a distância com telessala, tem o que só quer pela internet. Vai ter público para todo mundo. O Brasil tem 10 milhões de estudantes sem estar na escola. E o ensino a distância tem essa vantagem, ele democratiza o ensino. Ele leva o ensino a lugares onde nunca vão montar uma faculdade. Numa cidade de 15 mil habitantes, você não monta uma faculdade, é inviável. Mas lá você pode montar um polo de ensino a distância.

A operação com a Estácio foi uma forma de manter o investimento na educação a distância?
Com certeza. Se não teria que montar [uma rede EaD] no Brasil inteiro.

Essa consolidação do mercado está atrelada à entrada de grupos estrangeiros?
Mais ou menos. A Estácio não é grupo estrangeiro, mas tem investidores estrangeiros. Se você for olhar pelos acionistas, sim. Mas não pelos controladores, que estão no dia a dia. Você não vê um diretor estrangeiro cuidando da escola. Esse pessoal quer investir no Brasil porque é o maior crescimento que tem no mundo, nesses países que chamamos de Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. A Europa estagnou. Por exemplo, me ofereceram duas escolas em Portugal. Não vou lá montar. Não tem aluno. O Brasil tem muito para crescer ainda, muita gente para estudar. Não creio que vá trazer risco [o capital estrangeiro], porque vão continuar as instituições locais.

Em quantos anos o senhor acredita que este cenário de mais concentração se consolida?
Não passa de cinco anos. O pessoal precisa entender também que se não tiver qualidade vai para o espaço, porque o aluno tem muitas opções para escolher. Eu fiz [negócio] com a Estácio porque acredito na Estácio. Acredito na gestão. Os gestores lá são profissionais de primeira linha. É por isso que sou acionista e estou investindo.

O senhor diz que recebeu propostas de instituições estrangeiras. A nacionalidade foi uma barreira para fechar o negócio?
Eu preferi não vender. Não é porque o grupo era estrangeiro, porque dinheiro não vê cor. É porque eu teria que sair do negócio, e não queria isso. A proposta do grupo estrangeiro foi muito melhor. Mas e o dia seguinte? O que eu ia fazer? Não quero ficar com um dinheiraço aplicando. Para mim, é melhor ter menos participação mas estar num grupo grande. E eu gosto de educação. Então, se era para comprar outra escola, prefiro ficar com a minha. E é o que vou fazer, vou investir na educação básica.


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