Folha de S. Paulo


Macaca retirada de família de São Carlos (SP) gera revolta de internautas

Um macaco-prego criado há 37 anos como bicho de estimação em São Carlos (232 km de São Paulo), tornou-se o centro de uma polêmica depois de a Polícia Militar Ambiental retirá-lo da casa no último sábado (3) por ordem do Ministério Público Estadual.

A ação policial provocou uma reação na internet de defensores virtuais dos animais. Passavam de 17 mil as assinaturas colhidas até a noite desta terça-feira (6) para que Chico, como era chamado, voltasse para casa da família Carmona.

Apesar dos pedidos, ele continua no abrigo de animais silvestres da ONG Apass, de Assis (SP). Lá, descobriu-se inclusive que Chico na verdade é uma fêmea, o que surpreendeu a família, que sempre acreditou se tratar de um macho.

Aguinaldo Marinho/Divulgação/Apass
A macaca Carla, que durante 37 anos foi chamada de Chico por família de São Carlos, terá acompanhamento de ONG de Assis
A macaca Carla, que durante 37 anos foi chamada de Chico por família de São Carlos, terá acompanhamento de ONG de Assis

A mobilização virtual chamou a atenção até da imprensa internacional -foi destaque, por exemplo, nos sites da Fox News e do "Washington Post". Mas mesmo admitindo que há o carinho da família, entidades de defesa animal criticam o estado que o animal se encontrava em São Carlos: preso a uma coleira atada a uma corrente de um metro de extensão.

Recolhido ao abrigo de animais silvestres da ONG Apass, de Assis (434 km de São Paulo), foi rebatizado por funcionários de Carla, uma referência à cidade de São Carlos.

O temor dos signatários do abaixo-assinado virtual é o de que o animal não resista à separação de sua "mãe", Elizete Carmona. "Seus donos são seus pais, ele é como uma criança e deve estar muito assustado!", é um dos comentários na petição online.

A própria Elizete está desconsolada com a perda, segundo conta o marido, o pedreiro Clementino Carmona, 73. "Ela está é doente, até foi ao posto de saúde".

A família ganhou o macaco-prego ainda filhote de um caminhoneiro e dividia com uma gata o papel de bicho de estimação da família.

MAUS-TRATOS

Nem todos concordam com o tratamento doméstico dado ao macaco-prego. Em março, a PM Ambiental recebeu diversas denúncias anônimas sobre o bicho.

A polícia fez uma vistoria e não obteve dos Carmona nenhum documento de órgãos ambientais que os autorizasse a criar o bicho.

Alertada de que teria a posse temporária de Chico até que fosse localizado um abrigo, a família recebeu uma advertência da polícia.

Como a definição do abrigo ocorreu na semana passada, o bicho foi levado no sábado para Assis.

A avaliação da Apass é que Carla estava abaixo do peso com atrofia nas patas pela deficiência de cálcio.

Em Assis, a coleira foi removida e funcionários a colocaram com outra fêmea também antes criada em cativeiro.

A surpresa: Carla não se afastou ou tentou agredir, mas interagiu não só com a nova colega, mas com os outros macacos separados pelo alambrado.

Mesmo com mimos de seres humanos, aprisionar um animal na coleira pode ser um sinal de maus-tratos.

A opinião é de Marcos Pompeu, vice-presidente da ONG Rancho dos Gnomos, uma referência no cuidado a animais silvestres, em Cotia.

"Claro que os animais se apegam, mas o animal não tem essa afetividade, apego, como os seres humanos", diz. "É preciso que se pense não na família, mas no bem estar do animal."


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