Folha de S. Paulo


Presos foram esquartejados em rebelião de SP, dizem familiares

A primeira rebelião no Estado de São Paulo em mais de três anos terminou com dois presos esquartejados e na transferência de ao menos 75 detentos, em Itirapina (212 km de São Paulo).

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O motim na superlotada penitenciária Antonio de Queiroz Filho durou 21 horas --das 11h deste domingo (14) às 8h20 desta segunda-feira (15). Na ação, 68 familiares de presos passaram a noite com os detentos --segundo eles, por vontade própria, para evitar agressão.

Mulheres de presidiários ouvidas pela Folha afirmaram que os dois presos mortos --Flávio Roberto da Silva, 32, e Antônio Washington de Souza, 39-- já estavam na mira de outros detentos por não cumprirem acordos da facção existente no local.

Mas o estopim, segundo elas, foi o bloqueio de uma visitante, mulher de detento, neste domingo. Cada preso pode receber dois visitantes adultos em dias de visita.

Edson Silva/Folhapress
Policiais deixam a penitenciária Dr. Antonio de Queiroz Filho, em Itirapina, após rebelião que terminou com dois presos mortos
Policiais deixam a penitenciária Dr. Antonio de Queiroz Filho, em Itirapina, após rebelião que terminou com dois presos mortos

A mulher, segundo relato de funcionários da prisão, estava cadastrada para visitar outro preso, mas entrava para ficar com o marido. Com a descoberta do esquema, seu cadastro foi bloqueado.

Quando os presos souberam do veto à entrada, começaram o motim. Uma amiga (que visitava outro presidiário) deixou a cela em que estava para tentar buscar a mulher.

Conseguiu liberar sua entrada e, segundo elas, que não revelaram os nomes, ao retornarem os dois presos já tinham sido mortos.

ESQUARTEJAMENTO

De acordo com uma das visitantes, as cabeças dos presos foram carregadas no interior da prisão dentro de vasilhas, enquanto corações e fígados eram transportados em bandejas.

Um dos corpos foi levado ao pátio em um tambor com os pés para cima e o outro arrastado por lençóis.

Essa versão foi confirmada por outras cinco pessoas que estavam no presídio e por policiais que atenderam a ocorrência. Questionada sobre o assunto, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária não falou até a noite desta segunda-feira.

A rebelião terminou após a chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Em seguida, ao menos 75 presos foram transferidos para a unidade de segurança máxima de Presidente Venceslau, conforme funcionários.

Dois presos confessaram os homicídios na penitenciária, segundo a polícia: Edvan Cruz Machado, 24, que tem seis passagens por roubo, e Gerson de Lima Almeida, 36, acusado por furto e tráfico de drogas.

De acordo com policiais, Almeida disse que foi responsável pela retirada dos órgãos das vítimas, enquanto Machado disse à polícia que foi o responsável por esfaquear os detentos com uma faca improvisada com estiletes.

Além de superlotada, a penitenciária de Itirapina é alvo de reclamações de supostos maus-tratos aos detentos, que pedem mudança no horário de visita e melhor assistência técnica, entre outros.

Segundo a SAP, a última rebelião antes dessa, de Itirapina, tinha acontecido em março de 2010, na penitenciária de Reginópolis.


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