Folha de S. Paulo


Interior de São Paulo e Minas Gerais reúne as 'capitais das cesarianas'

A auxiliar de serviços gerais Maria José dos Santos, 32, fez três cesarianas na Santa Casa de Barretos (423 km de São Paulo). Na última, no dia 17 de junho, outras três mães tiveram filhos no hospital, também de cesarianas.

O caso de Barretos faz parte da realidade de algumas microrregiões do noroeste paulista e do Triângulo Mineiro, onde o índice de cesarianas passa de 80% --no país, 54% dos brasileiros, em média, nascem de cesariana.

Há taxas mais altas ainda, como em Uberlândia, que chegou a atingir 95%, mas tem média de 83%, e em São José do Rio Preto (438 km de São Paulo), com média de 84%, segundo levantamento da Folha a partir de dados de 2011 do Sinasc (Sistema Nacional de Nascidos Vivos), do Ministério da Saúde, que incluem partos das redes pública e privada.

Os números dão a essas cidades o título informal de campeãs brasileiras dos partos cirúrgicos.

Na Santa Casa de Barretos, onde Maria José teve os filhos, outras 149 mães fizeram parto em maio, 139 por meio cirúrgico.

Lá, a taxa de cesarianas chega a 89%. Para o secretário da Saúde do município, Alexander Stafy Franco, "nosso índice é vergonhoso".

Para ele, é preciso mudar o comportamento dos profissionais da saúde. "Estamos conscientizando os médicos para orientarem suas pacientes sobre o parto normal."

Em São Joaquim da Barra (382 km de São Paulo), também na região de Ribeirão, 84% dos partos são cesarianas. Para o secretário da Saúde, Rodrigo Jorge Massi, as grávidas escolham a cesária por comodismo.

"Nossos números vão na contramão de qualquer política de saúde", afirma Lígia Barreto, secretaria de saúde de Fernandópolis (553 km de São Paulo).

A microrregião encabeçada pela cidade que engloba outros dez municípios é a que, proporcionalmente, mais faz cesáreas no Brasil.

De cada dez partos, apenas um é normal. A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que taxas de cesariana acima de 15% indicam "abuso".

Por essa razão, o Ministério da Saúde classifica a situação brasileira como "inaceitável".

A quantidade de cesáreas é crescente em todo o país por múltiplos fatores. O maior acesso das famílias a serviços de saúde mais complexos é um. Mas nas cidades onde os números destoam da média há outras causas associadas.

Silva Júnior/Folhapress
Maria José dos Santos e seu bebê, que nasceu de cesariana na Santa Casa de Barretos
Maria José dos Santos e seu bebê, que nasceu de cesariana na Santa Casa de Barretos

'CULTURA CESARIANISTA'

Na mineira Uberlândia (em cuja microrregião 83% dos partos são cesáreas) atribui-se a predominância ao ensino da medicina na cidade.

"Uma cultura 'cesarianista' se desenvolveu na UFU (Universidade Federal de Uberlândia) porque o HC, onde os alunos estagiam, é referência para casos de alto risco", diz Almir Fontes, secretário da Saúde da cidade.

Os casos representam mais de 2/3 das mães atendidas. Entre elas, as cesáreas ultrapassam 70%. Os alunos reclamam. Em novembro passado, fizeram um dia de greve cobrando melhorias no estágio. Uma reivindicação: assistir mais partos normais.


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