Folha de S. Paulo


Tinha até maconheiro no protesto, diz defensor de empresário foragido

O advogado Ricardo Augusto Nascimento Pegolo dos Santos, que defende o empresário responsável pelo atropelamento que causou uma morte durante protesto em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) na semana passada, disse nesta segunda-feira que seu cliente teve medo de ser linchado pelos manifestantes.

Segundo ele, havia um grupo de pessoas fumando maconha e provocando confusão com outros motoristas durante o ato, o que deixou o empresário Alexsandro Ishisato de Azevedo, 37, acuado.

Divulgação
Alexsandro Azevedo conversa com manifestantes
Alexsandro Azevedo conversa com manifestantes

"Temos uma testemunha que viu isso [a confusão provocada por usuários de drogas]", disse o defensor à Folha.

A declaração foi dada após a reportagem questionar a posição de Azevedo, que, ao site G1, afirmou no último sábado (22) que havia "bandidos" entre os manifestantes.

O empresário, que está foragido, atropelou quatro pessoas durante o protesto na última quinta-feira (20) --um deles, o estudante Marcos Delefrate, 18, morreu no local, na avenida João Fiúsa.

Santos, que veio de Campo Grande (MS) para defender Azevedo, disse que o empresário vai se apresentar depois de uma posição da Justiça sobre os dois pedidos feitos por ele nesta segunda-feira (24).

Um deles é para a decretação de segredo de justiça do caso. Segundo ele, a família de Azevedo está sendo ameaçada. O conteúdo do outro pedido não foi revelado.

De acordo com o advogado, havia gente atrás do carro e, por isso, seu cliente não deu marcha a ré e foi embora. No entanto, vídeos divulgados na internet não mostraram isso. Segundo Santos, essas imagens divulgadas por redes sociais só mostram cenas negativas a Azevedo.

"Ninguém falou que chutaram e bateram com um skate no carro", afirmou o defensor. A Folha publicou no último sábado (22) que, segundo um dos sobreviventes, o estopim para o atropelamento foi quando um manifestante bateu com o skate no retrovisor da Land Rover de Azevedo.

Ele disse também que os manifestantes não deveriam estar naquele local. "Eles deveriam subir pela avenida Independência. Tanto que ali não tinha policiamento nem tinha sido isolada."

Santos afirmou que o carro do empresário é blindado.

"O Alexsandro não precisava sair do lugar. Ele abriu o vidro para conversar e dialogar com as pessoas. Mas [temeu porque] se você juntar 20 manifestantes dá para tombar o carro."

'FATALIDADE'

Questionado sobre o fato de o empresário ter passado por cima dos manifestantes, Santos disse que foi uma fatalidade.

"A junção de diversos fatores, como dentista queimado [em São José dos Campos], vandalismo e carro de reportagem incendiado [em outros protestos pelo país], criou aquela situação [tensa] e houve a fatalidade [atropelamento e morte do estudante]."

Santos falou que seu cliente quer se entregar, mas com segurança. O advogado pediu que Azevedo se apresente à Justiça, não ao delegado.

"Se ele se entregar hoje [à polícia], vai ser linchado. Isso pode trazer outros problemas."

O defensor disse ainda que está providenciando a parte documental para ressarcir a família de Marcos e outros atropelados, mas lembrou: "Lógico que dinheiro nenhum paga uma vida".

Edson Silva - 20.jun.2013/Folhapress
Manifestante atropelado é atendido na avenida João Fiúsa, em Ribeirão Preto; motorista atropelou outros três e matou um
Manifestante atropelado é atendido na avenida João Fiúsa, em Ribeirão Preto; motorista atropelou outros três e matou um

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