Folha de S. Paulo


Feira do Livro barra cartazes de protesto feminista contra Pondé

A organização da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) barrou a entrada de cartazes em protesto ao filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, que deu nesta quarta-feira (12) uma conferência no evento.

A manifestação foi planejada pela Frente Feminista para protestar contra o texto "Bonecas de Quatro", publicado na última segunda-feira (10) na Folha.

Segundo a organização da feira, na entrada do Theatro Pedro 2º, local da conferência, foram recolhidos cartazes e apitos dos manifestantes. O objetivo, segundo a assessoria, era evitar tumultos.

Silva Junior/Folhapress
O filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé participa da Feira do Livro de Ribeirão Preto em conferência no Theatro Pedro 2º
O filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé participa da Feira do Livro de Ribeirão Preto em conferência no Theatro Pedro 2º

Já a Frente Feminista de Ribeirão informou que o protesto era pacífico e que o ato não atrapalharia a fala de Pondé. O grupo negou que tenha levado apitos ao evento.

Em sua coluna na última segunda-feira, Pondé dialoga com supostas feministas. Num trecho, ele escreve que "algumas feministas mais azedas do que o normal querem ensinar as mulheres heterossexuais (essas que muitas militantes julgam compactuar com o inimigo) a transar e propõem a demonização de uma das posições mais preferidas pelas meninas saudáveis: transar de quatro".

Durante a palestra, o filósofo disse que, no texto da coluna, citou uma feminista que depois descobriu ser uma personagem inventada na internet. "Colocarei um PS [observação ao término do texto] na próxima coluna", disse à plateia.

Segundo o manifestante e membro da Frente Feminista de Ribeirão Pedro Arioli Gibarra, 18, o recolhimento dos cartazes foi um ato repressivo por parte da organização da feira.

"A nossa proposta era ouvir toda a palestra e somente levantar os cartazes. Não queríamos atrapalhar a fala dele [Pondé]", afirmou.

Gibarra conta que pediu diversas vezes o microfone na rodada de perguntas abertas ao público, mas que foi ignorado pelos monitores da palestra.

Os cartazes barrados pela organização da Feira tinham os dizeres "leia mais, opine menos" e "brinquedo usa o órgão genital para brincar? Se sim, não é para criança. Se não, é para ambos os sexos".

Ele não soube dizer quantos manifestantes foram ao Pedro 2º participar do protesto.

Membro da organização da feira, Viviane Mendonça, contou que soube da manifestação por meio das redes sociais. "Divulgaram no Facebook e a gente ficou sabendo."

Ela negou que o recolhimento de cartazes e apitos fosse um ato repressivo. "A feira é um espaço de discussão, de debate para o público, só não queríamos que eles atrapalhassem a palestra."

DIÁLOGO

Ao final da conferência, Pondé recebeu um dos manifestantes presentes na plateia, uma menina que estava com o rosto pintado de boneca. "Ela me abordou e explicou quem era. Falei para ela me mandar um e-mail para conversarmos mais." A Folha não conseguiu falar com ela.

O filósofo conta que veio a Ribeirão Preto já sabendo dos protestos. "Minhas alunas [da graduação da PUC-SP] viram no Facebook e me contaram do ato."

Durante a palestra, um jovem, que não tinha ligação com os manifestantes, abordou o texto "Bonecas de Quatro". O filósofo disse que a acusação de que a sua coluna desrespeitou o movimento feminista "é uma idiotice". "Não me entenderam."

A conferência de Pondé lotou o teatro. Segundo a assessoria da feira, 1.200 pessoas assistiram ao evento, mesmo número alcançado pelos escritores Thiago de Mello, em evento na última sexta-feira (7), e Pedro Bandeira, no sábado (8).


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