Folha de S. Paulo


Veterinária diz que foi convidada e demitida da prefeitura por vereadora

Demitida do cargo nesta quinta-feira (23), a veterinária e ex-chefe do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) Ana Lúcia Baldan acusou a vereadora governista Viviane Rodrigues Alexandre (MD) pela exoneração.

Responsável pelo CCZ, o secretário de Saúde da cidade, Stenio Miranda, afirmou neste sábado (25) que não foi consultado sobre a demissão de Baldan nem sobre a nova chefe do setor, a bióloga Stefania Dallas Garcia de Brito Almeida, nomeada para o cargo no mesmo dia da saída da antecessora.

O caso foi revelado pela EPTV, retransmissora da Rede Globo no interior paulista, na noite desta sexta-feira.

Baldan disse que sofreu perseguição política por parte da vereadora por não concordar que a parlamentar, militante de defesa dos animais, interferisse no CCZ.

Mariana Martins/Folhapress
A ex-chefe do Centro de Controle de Zoonoses Ana Lúcia Baldan; ela diz que foi demitida por influência política
A ex-chefe do Centro de Controle de Zoonoses Ana Lúcia Baldan; ela diz que foi demitida por influência política

A decisão pela saída de Baldan do cargo e nomeação de Stefania foi tomada pelo vice-prefeito Marinho Sampaio (PMDB), que responde interinamente pelo Executivo durante o afastamento médico de Dárcy Vera (PSD) do comando da cidade.

Miranda defendeu a ex-chefe das zoonoses e afirmou que ela vinha realizando um bom trabalho à frente do órgão.

Sobre a nova chefe, ele admitiu que não conhece Stefania nem sabe qual trabalho realizado por ela na prefeitura. Funcionária administrativa da Secretaria de Planejamento, a chefe nomeada do CCZ é servidora de carreira há 20 anos.

A Folha questionou se Miranda achava normal a demissão da chefe do CCZ e a nomeação de outra pessoa para o cargo serem feitas sem seu conhecimento. O secretário disse que não falaria sobre o assunto sem antes conversar com Marinho, o que deve ocorrer na segunda-feira (27).

Vereadora eleita em primeiro mandato, Viviane faz parte da coligação que ajudou a manter Dárcy no comando do Executivo em outubro passado. Formada em direito, ela atua em ONGs de defesa animal e já foi advogada da AVA (Associação de Vida Animal).

'PERSEGUIÇÃO POLÍTICA'

Na manhã deste sábado, a ex-funcionária disse à Folha que sofreu uma represália por não ter sido "parceira" de Viviane.

Segundo a veterinária, foi a vereadora e não um representante da prefeitura quem a convidou para assumir o cargo no CCZ. Baldan foi nomeada em fevereiro.

Antes assumir o cargo, ela disse que foi entrevistada por Stenio e pela diretora da Secretaria da Saúde, Maria Luiza Santamaria. Segundo a veterinária, Viviane participou da entrevista.

Edson Silva/Folhapress
As vereadoras Viviane Alexandre (de camisa rosa) e Glaucia Berenice (à dir) durante sessão na Câmara de Ribeirão Preto
As vereadoras Viviane Alexandre (de camisa rosa) e Glaucia Berenice (à dir) durante sessão na Câmara de Ribeirão Preto

Na última quarta-feira (22) -- antes, portanto, de sua demissão ser publicada no "Diário Oficial" do município, no dia 23 --, Baldan disse que foi informada pela própria vereadora sobre a exoneração.

"Eu liguei para ela [Viviane, sobre outro outro assunto]. E ela me falou: 'aproveito para comunicar que sua exoneração sai ainda nesta semana. Queremos uma parceira, não uma técnica'", afirmou a veterinária.

A ex-chefe do CCZ disse ainda que Viviane queria se promover com ações na zoonoses, mesmo sem ter participação nenhuma delas. Como exemplo, Baldan citou que construiu uma área de lazer no CCZ. "Ela [a vereadora] queria que eu dissesse que foi ela quem fez. Mas fui eu", afirmou a veterinária.

O "estopim" que levou à demissão, segundo Baldan, foi o fato de ela ter permitido a eutanásia de um cão com leishmaniose, que foi sacrificado no começo deste mês.

De acordo com a ex-chefe do CCZ, a eutanásia nesses casos é recomendada por uma portaria do Ministério da Agricultura e do Ministério da Saúde e tem apoio do Conselho Federal de Medicina Veterinária.

"Ela [Viviane] se sentia minha chefe. Inclusive, assessoras e secretárias [da vereadora] me disseram várias vezes que meus chefes não eram o Stenio nem a Maria Luiza, mas sim a Viviane", disse Baldan.

A veterinária encaminhou à reportagem um e-mail no qual a vereadora faz "cobranças" a ela.

"Por que esse caso [da leishmaniose] não foi passado para mim? O que vc estava esperando?", diz a vereadora em trecho do e-mail encaminhado para Baldan. "Quero relatório completo de todos [os casos de leishmaniose]", completa a parlamentar.

OUTRO LADO

A vereadora nega que tenha convidado a veterinária para o cargo e que tenha provocado sua demissão. Segundo Viviane, nomeações e demissões de cargos da prefeitura são atribuições exclusivas da administração municipal.

"A minha função é fiscalizatória. Não tenho poder de convidar ou exonerar ninguém do cargo [na prefeitura]. Apenas a indiquei, como fiz inúmeras vezes com outros profissionais."

Ela negou também interferência na nomeação da nova chefe do CCZ. "Se eu fosse dona do cargo, teria escolhido outra pessoa", afirmou ela sobre a nomeação de Stefania.

Sobre o e-mail, a vereadora confirmou que o enviou para cobrar a então chefe do CCZ. Segundo a parlamentar, ela fez a cobrança porque Baldan não respondeu aos ofícios enviados à zoonoses.

Já a prefeitura não informou o motivo da demissão de Baldan. Disse apenas que foi uma "decisão do governo".

Procurado pela Folha, o vice-prefeito Marinho Sampaio não foi encontrado para falar sobre o assunto.

Ao jornal "A Cidade", publicação do grupo EPTV, Marinho disse que ele ocupa um cargo hierarquicamente acima do responsável pela Secretaria da Saúde. Por isso, tomou a decisão pela saída de Baldan.

"Quem disputou a eleição foi Marinho Sampaio e [foi] a Dárcy Vera, não o Stenio [Miranda]. Ele é um colaborador", afirmou o vice-prefeito.


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