Folha de S. Paulo


Funk ao ar livre fecha ruas e reúne multidão em Ribeirão Preto (SP)

Domingo, 20h, e o primeiro carro com o som de um funk "nas alturas" estaciona entre as ruas Maria Celina Bin Rosa e Antoun Youssif Issa, no Paulo Gomes Romeo, periferia de Ribeirão Preto. Rapidamente, outros veículos param, também com música alta. Em duas horas, já são cerca de 500 pessoas.

A cena lembra os famosos bailes funk do Rio de Janeiro. Meninas, adolescentes e jovens dançam músicas como "Senta na Cabecinha" e "Danada Vem que Vem". Exibem sensualidade - muitas usam short curto ou roupa colada.

Há entre elas até crianças - aparentando ter quatro, cinco anos de idade (acompanhadas das mães) - que imitam as adolescentes: rebolam, agacham e vão até o chão.

Rapazes caminham pela multidão com garrafas de bebida alcoólica e narguilés (espécie de cachimbo).

Edson Silva/Folhapress
Rua no bairro Paulo Gomes Romeo, em Ribeirão Preto (SP), que reuniu cerca de 500 pessoas num domingo para um baile funk ao ar livre
Rua no bairro Paulo Gomes Romeo, em Ribeirão Preto (SP), que reuniu cerca de 500 pessoas num domingo para um baile funk ao ar livre

Tráfico de drogas, "rachas" e manobras arriscadas com motos, além de outras crianças com bicicletas no meio da confusão, completam o cenário do ritual (nome que se dá ao baile funk), que acontece todos os domingos há cerca de quatro meses.

Ao empinarem as motos, os rapazes quase encostam suas cabeças no chão. Também correm com o veículo no meio da multidão e passam rente a crianças.

De um dos prédios do condomínio Wilson Toni, que fica em frente à rua Maria Celina Bin Rosa, a Folha acompanhou a movimentação por mais de três horas no dia 14.

A reportagem também passou pelo meio do baile e sentiu o cheiro de maconha. Não viu nenhum carro da PM nem da Guarda Municipal, apesar de os moradores afirmarem que pediram ajuda.

À Folha a PM disse que faz operações no local.

TRÁFICO NO 'FERVO'

Um corredor é formado na rua. Outra turma entra na festa: motoristas em carros de luxo como New Beatle, Corolla, Honda Civic e Audi passam e param para conversar rapidamente com rapazes.

Numa cena típica de venda de drogas, esses jovens se apoiam nas janelas dos veículos e falam com os motoristas, que logo deixam o local.

Em determinado momento, quando a reportagem próximo da movimentação e conversava com moradores das redondezas, o motorista de um desses carros estacionou e perguntou para a repórter onde pode comprar o "pó". Outro morador apontou em direção ao ritual e disse: "No fervo".

Moradores ouvidos pela reportagem se dizem "reféns" do tráfico e do ritual funk por causa do som exageradamente alto, que não permite nem que se converse ou veja TV dentro de casa.

No entanto, o medo impera: nenhum deles tem coragem de se identificar.


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