Folha de S. Paulo


Com PM em greve, RN terá virada com Exército e policiais em treinamento

Vitorino Junior/ Photo Press /Agência O Globo/Folhapress
Com apoio das Forças Armadas em Natal, população volta a sentir segurança
Forças Armadas chegam a Natal neste sábado (30), em meio a paralisação de policiais

Em meio à paralisação de policiais, o governo do Rio Grande do Norte escalou para atuar na segurança dos principais pontos de festa do Réveillon 270 cabos da PM que começaram na sexta-feira (29) o curso de formação de sargentos. Além disso, o Estado conta com homens das Forças Armadas e Nacional de Segurança Pública.

O Rio Grande do Norte vive uma crise de segurança pública. Os policiais militares entraram neste domingo (31) no 13º dia de aquartelamento para reivindicar melhores condições de trabalho e pagamento de salários atrasados.

Desde o início da paralisação, houve 94 mortes violentas, segundo o Observatório da Violência Letal Intencional (Obvio), que contabiliza homicídios no Estado. O dia de maior letalidade foi a sexta-feira (29), com 17 mortos.

No mesmo período temporal em 2016, de 19 a 31 de dezembro, foram 73 mortos, ou seja, aumento de 29% do ano passado para este. A média de mortes violentas ao dia no Estado no período da paralisação é de 7,23. Como comparação, ao longo deste ano todo o número é de 6,6 mortes diariamente -um crescimento de 10% desde que os policiais deixaram de patrulhar.

Segundo o comandante da PM, coronel José Osmar Maciel de Oliveira, o efetivo de PMs em formação será usado em vários locais onde há rotineira concentração de pessoas e realização de festas, em especial no interior.

Além dos policiais, o patrulhamento das ruas para evitar novos arrombamentos e roubos será feito por 190 homens da Força Nacional de Segurança Pública e 2.800 das Forças Armadas -esses últimos que chegaram ao Estado no final da semana passada.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, chegou a Natal na manhã do sábado (30) e disse ter decidido passar a virada do ano na cidade para acompanhar o trabalho da tropa. De acordo com o ministro, as Forças Armadas ficarão no Estado por ao menos duas semanas.

O comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, diz-se preocupado com "o constante emprego do Exército em 'intervenções' nos Estados". A declaração foi feita por meio de sua conta no Twitter na noite deste sábado.

Ele afirmou ainda que a segurança pública "precisa ser tratada pelos Estados com prioridade 'Zero'" e que os dados sobre a violência vão ao encontro de suas afirmações.

Villas Boas

OPERAÇÃO VERÃO

Com o aquartelamento dos policiais, o governo local adiou o início da tradicional Operação Verão, que visa dar segurança aos turistas que lotam as praias potiguares no final de dezembro e janeiro.

"Nos outros anos, sem crise, a gente já iniciava essa operação a partir do dia 30, envolvendo o Réveillon. Mas hoje estamos numa situação diferente, e optamos por garantir primeiro o Réveillon. Pedimos reforço também da Força Nacional e já conseguimos renovar por mais seis meses", disse a secretária Sheila Freitas (Segurança).

Segundo ela, nem todos os policiais militares e civis aderiram à paralisação, mas ela não soube informar qual efetivo estava indo às ruas.

Sobre o atraso dos salários, o governo do Rio Grande do Norte afirma enfrentar uma grave crise financeira.

O Estado pediu ajuda ao governo federal para pagar débitos com servidores. O valor pedido foi de R$ 600 milhões, para aliviar os cofres e pagar o salário de novembro dos servidores que ganham acima de R$ 2.000 e o 13º salário do funcionalismo.

Na segunda-feira (25), o Ministério da Fazenda, com base em decisão do TCU, negou o repasse que tinha sido acordado entre os governos. O governo do Estado recorreu.

Já neste sábado (30) a Justiça autorizou o governo estadual a remanejar R$ 225 milhões do Fundo Nacional de Saúde e de orçamentos não executados do ano para pagar os salários atrasados.

A decisão foi em resposta a um mandado de segurança enviado por associações de militares e policiais.

VIAGENS SUSPENSAS

Mesmo com a promessa de reforço, o clima de medo afasta turistas. Na noite de sexta-feira (29), a jornalista Shirley Nascimento, 39, foi até a rodoviária de Maceió cancelar a passagem que tinha marcada para Natal, onde passaria Réveillon com a família. "Meu tio me ligou e disse que achava melhor que não fosse. Lá já estava complicado antes da greve. Se estava assim com polícia, imagina agora?".

Em Parnamirim, na região metropolitana de Natal, a prefeitura cancelou os shows e a tradicional queima de fogos na praia de Pirangi. Mas, apesar da greve da PM, todos os hotéis estão com suas lotações completas nos principais polos turísticos, como Natal e a praia de Pipa.


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