Folha de S. Paulo


Após 1º ano, Doria tem mais da metade das promessas travadas

Se a promessa do prefeito João Doria (PSDB) de aumentar a velocidade nas marginais de São Paulo foi cumprida logo nos primeiros dias do mandato, a ideia de construir na cidade uma espécie de "protestódromo" sumiu.

O fim de uma fila de exames represados havia anos na rede municipal de saúde também se concretizou. Já a intenção de acabar com as pichações teve até um impacto inicial, quando foi criada uma multa para infratores, mas basta olhar para prédios e muros da capital paulista para constatar que as inscrições continuam se proliferando.

As medidas descritas acima são parte das 118 promessas feitas pelo tucano durante a campanha eleitoral de 2016, quando ele superou seus adversários no primeiro turno, e no período de transição.

Passado um ano da gestão, no entanto, mais da metade do que foi anunciado como plano pelo prefeito está longe de sua implementação.

Essa é a constatação da Folha com base em levantamento que identificou a situação de cada um dos compromissos assumidos. Dentro desse total, 11 (9%) foram concluídos, outros 45 (38%) estão em andamento, 29 (25%) em ritmo lento de implementação e 33 parados (28%).

Chamada Balanço das Promessas de Doria - Link para http://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/promessas-doria
Acompanhe a evolução de cada uma das promessas no especial "Promessas de Doria"

As promessas de Doria foram tabuladas pela reportagem e estão na página do jornal na internet desde 1º de janeiro, com detalhes da situação de cada uma delas.

Para classificar a execução dos compromissos, a Folha aponta como "concluídos" aqueles em que o prefeito finalizou integralmente a ação. Por exemplo, nos três primeiros meses do ano, a Secretaria Municipal de Saúde limpou a fila de 485,3 mil exames.

Em "andamento" estão as iniciativas que começaram e foram parcialmente entregues. Por exemplo, a reforma de UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Segundo a prefeitura, 14 obras foram retomadas.

Outra promessa em andamento é a desocupação de prédios invadidos. Para cumpri-la, a prefeitura diz ter criado um núcleo de mediação de conflitos que atendeu 8.500 famílias, com aquisição de áreas ou desocupação voluntária de imóveis, além de dar andamento ao programa de locação social.

São consideradas em ritmo "lento" aquelas que dependem de discussões que ainda estão em estágio inicial ou indicam avanço tímido em comparação com a meta final.

É o caso da meta de fazer 30 piscinões. Neste ano, foram inaugurados dois reservatórios desses na cidade -um deles, embora operado pelo município, foi construído pelo governo estadual.

Também em estágio lento está a valorização da CGM (Controladoria Geral do Município), órgão de combate à corrupção. Além de perder status de secretaria, o órgão teve uma técnica substituída por um aliado da atual gestão.

Já as consideradas "paradas" são as promessas que mal saíram do papel ou foram abandonadas. Por exemplo, a prefeitura desistiu de fazer faixas exclusivas para motos e manteve paralisadas obras dos CEUs (Centros Educacionais Unificados).

Por levar em conta as promessas de campanha ou aquelas antes de assumir, nem tudo o que está no levantamento consta do programa de metas da prefeitura, obrigatório por lei e divulgado pela gestão em julho passado.
Em entrevista à Folha, Doria comentou de bate-pronto cada uma das promessas. Uma página da versão impressa do jornal com a relação de todos os 118 compromissos é mantida na pasta de um ajudante de ordens e sacada pelo prefeito a cada reunião com o secretariado para cobrá-los.

PRÓS E CONTRAS

Doria finaliza o primeiro dos quatro anos de mandato com aumento em sua reprovação. Apesar de dar agilidade a alguns projetos, como o que reduziu a burocracia para abrir empresas, o prefeito enfrenta insatisfação inclusive com uma de suas bandeiras políticas: a zeladoria.

Áreas vistoriadas e "ajeitadas" por Doria no início da gestão, alvo de propaganda do programa Cidade Linda, voltaram a ficar deterioradas.

No caso das promessas de concessões e privatizações, uma parte está em andamento (como Mercadão, parques e Pacaembu ), e outra, emperrada (como Anhembi, Interlagos e serviço funerário). A venda de bens públicos é uma das grandes apostas do tucano, que, em meio à crise econômica, pretende investir o dinheiro principalmente nas áreas de saúde e educação.

Segundo pesquisa Datafolha de novembro, 39% consideram a gestão tucana ruim ou péssima -o mesmo índice de desaprovação do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) ao final de seu primeiro ano no comando, em 2013. Doria tem ainda 29% de ótimo ou bom e 31% de regular.

Em relação ao início do ano, sua aprovação caiu 15 pontos percentuais (44% para 29%), enquanto a reprovação nesse mesmo período subiu 26 pontos (13% para 39%).

Desde janeiro, quando Doria vivia uma espécie de lua de mel com o eleitor, problemas cotidianos seguiram aparentes, como buracos nas ruas e semáforos apagados.

VIAGENS

O desgaste de Doria se acentuou após as viagens pelo país no decorrer do ano, quando era apontado como potencial candidato à Presidência, colocando-se em uma delicada situação de disputa interna no PSDB com seu padrinho político, o governador paulista, Geraldo Alckmin.

Em outubro, 49% dos moradores de São Paulo diziam que essas viagens do prefeito pelo país traziam mais prejuízos do que benefícios à cidade (35% aprovavam a iniciativa), conforme pesquisa do Datafolha na época.

Bruno Santos/Folhapress
O prefeito de São Paulo, João Doria em uma embarcação, em Belém, durante os festejos do Círio de Nazaré
O prefeito João Doria em uma embarcação, em Belém, durante os festejos do Círio de Nazaré

Para sair do atoleiro da popularidade, Doria contará em 2018 com um orçamento ampliado para investimentos (cerca de R$ 5 bilhões), mas deixa ainda no ar a incerteza sobre sua permanência no cargo. Cotado para a disputa do governo de SP, terá de decidir até o início de abril se permanecerá na prefeitura até 2020.

"MAIORIA EM ANDAMENTO"

O prefeito João Doria (PSDB) diz que quase todas as promessas para sua gestão estão em andamento.

Ele afirma seguir de perto as 118 promessas compiladas pela Folha. Com uma edição do jornal de 1º de janeiro de 2017 em mãos, diz: "Eu tenho tudo aqui. Essa você não me pega".

Prestes a completar um ano no cargo, ele falou sobre o andamento de cada um dos compromissos.

Ao fim de cerca de 30 minutos, ele discordou do índice de aproveitamento apresentado pela reportagem. Enquanto a Folha contabiliza 33 promessas paradas, o prefeito afirma que são 18. "De 118 compromissos, 100 ou foram integralmente cumpridos ou estão sendo cumpridos. Eu tenho checado isso toda semana", diz.

Avener Prado/Folhapress
O prefeito João Doria (PSDB) em entrevista à Folha sobre o balanço de um ano de gestão
O prefeito João Doria (PSDB) em entrevista à Folha sobre o balanço de um ano de gestão

Apesar de atrasos de alguns dos itens de seu pacote de desestatização, que é considerado o mais ousado de seu plano de governo, seja por tramitação lenta na Câmara ou empecilho imposto pelo Tribunal de Contas, Doria diz estar otimista de que entregará todos os itens prometidos para privatização.

O que ele considera em estágio mais avançado é o complexo do Anhembi, embora ainda falte uma outra lei relacionada ao zoneamento da região para que o projeto avance. "Hoje [19/12, data da entrevista], inclusive, assinei o projeto de lei [que sanciona a privatização]", afirmou.

Sobre a desestatização do estádio do Pacaembu, localizado num bairro tombado e, portanto, com restrições urbanísticas, o tucano disse que já conseguiu a aprovação do Legislativo, desde que seja mantido o estádio de futebol.

O tucano admitiu ser necessário melhorar a zeladoria. "Nossos índices já começaram a melhorar, e a tendência ao longo de 2018 é que eles alcancem o nível de satisfação que o prefeito deseja."

Apesar da proliferação de pichações, ele afirma estar coibindo a prática, um dos grandes temas do início de sua gestão.

"Estamos impedindo. Mais de 270 pichadores foram presos", diz.

A respeito das obras paralisadas dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), a prefeitura afirmou que, diante da falta de verba para investimento, focou a construção de creches.

Sobre as obras antienchentes, em plano lançado no fim de novembro, a prefeitura prometeu entregar melhorias em drenagem longo de 2018, como as relacionadas ao córrego do Cordeiro (zona sul).

Já em relação à valorização da Controladoria, a gestão disse que contratou mais 20 auditores.

Algumas das promessas foram retiradas do cronograma, como a criação de um "protestódromo" ou a faixa exclusiva para motocicletas, mas Doria defende as mudanças. "Não temos compromisso com o erro. Nosso compromisso é com o acerto. O que puder ser melhor, vamos fazer".


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