Folha de S. Paulo


Maria Aparecida Justo da Silva Schoenacker (1938-2017)

Mortes: Educadora, foi rede social antes de existir a internet

Arquivo pessoal
Maria Aparecida Justo da Silva Schoenacker (1938-2017)
Maria Aparecida Justo da Silva Schoenacker (1938-2017)

Cartas com recortes de jornal, indicações de livros durante uma conversa, um telefonema para comentar sobre algum trabalho acadêmico recente. Maria Aparecida não tinha a potência nem a base de dados do algoritmo do Facebook, mas viveu a maior parte da vida como uma rede social analógica.

No entanto, diferente do descendente multibilionário, ela não tinha propensão a gerar bolhas de classe ou de afinidade. Na verdade, sua atuação profissional indica o contrário: durante a década de 1960, foi professora do Curso Vocacional Oswaldo Aranha, escola paulistana que integrava um projeto experimental do governo do Estado.

Com uma proposta pedagógica centrada na pesquisa junto à comunidade do entorno e na deliberação sobre os rumos das escolas em assembleias formadas por alunos, esses colégios não teriam vida longa.

Sob a alegação de que o ensino vocacional teria o objetivo de sovietizar o país, a ditadura militar fechou as seis unidades do gênero em São Paulo –na capital, o Exército chegou a ocupar a escola.

O fim do Oswaldo Aranha não deu refresco à educadora. Em 1974, ela e o marido Ângelo, também professor, foram presos.

Pais de duas crianças, resolveram se dedicar à iniciativa privada depois de soltos.

Nos seus últimos dias, na UTI, não sossegou enquanto a filha não entendesse as instruções para os presentes de Natal –do bilhete ao embrulho, cada um tinha destinatário certo e insubstituível.

Morreu no último dia 7, aos 79 anos, de complicações de um infarto. Deixa marido, duas filhas e dois netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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