Folha de S. Paulo


Garoto com doença rara corre em MG guiado pela mãe em cadeira adaptada

Sob os olhares admirados de atletas do Parque do Sabiá, em Uberlândia (MG), Pedro Cordeiro, 11, percorre sorridente toda a extensão da pista de corridas sentado em sua cadeira de rodas adaptada, conduzida pela mãe, Karolina Cordeiro.

A atividade faz parte de uma rotina de treinos diários que começou em 2012, quatro anos depois de o garoto receber o diagnóstico da Síndrome de Aicardi Goutieres, uma doença rara que inviabiliza todos os movimentos do corpo e também a fala. Ainda não se tem muitas informações científicas e médicas a respeito da enfermidade.

Pedro tinha nove meses quando começou a ficar sonolento e perder os poucos movimentos adquiridos.

"Procuramos os melhores especialistas do país, fizemos inúmeros exames, mas passamos quase dois anos sem um diagnóstico preciso", conta a mãe. "Cada vez que o exame não apontava o que ele tinha, o pânico tomava conta de mim. Quando não se sabe o nome da doença, o medo de perder é maior."

Em 2008, depois de ler um artigo de oito linhas em inglês sobre a síndrome, Karolina escreveu para o pesquisador que conduzia os estudos no mundo. O diagnóstico da doença veio naquele ano por um neuropediatra, nos Estados Unidos.

CORRIDA

Mesmo sem conseguir descrever a importância da corrida em sua vida, Pedro demonstra muita alegria durante os treinos e competições.

Ele usa um triciclo adaptado, específico para a atividade. Sorri o tempo todo, especialmente quando está correndo. A comunicação se dá, quase o tempo todo, com os olhos. De acordo com a mãe, ele sempre foi calmo, mas passou a dormir melhor e ficou mais alegre depois do esporte.

"A limitação física do Pedro não o impede de viver com qualidade e ser feliz. A corrida mostra para o mundo um outro lado da vida das pessoas com deficiência, prova que a vontade é mais importante", afirma a mãe.

A dupla conta, uma vez ou outra, com a companhia de Ana Júlia, 13, e Giovana, 7, irmãs de Pedro.

A primeira corrida aconteceu no Dia das Mães de 2012, em uma competição em Uberlândia. Desde então, mãe e filho colecionam mais de 80 participações e carregam na bagagem a experiência de ter conduzido a tocha olímpica em 2016.

Além do esporte, a dupla tem outra atividade: a dança. Desde 2013, quando tiveram contato com a modalidade por meio de um cadeirante que vendia balas no sinal, e de quem Pedro ficou amigo, mãe e filho se apresentam semanalmente em escolas e eventos de Uberlândia.

"Criamos uma coreografia base, mas vamos modificando durante a apresentação. O Pedro é quem dá o tom. A depender do que ele quer fazer, modificamos os passos", diz.

A corrida e a dança ajudam a garantir a qualidade de vida e asseguram vivência social a Pedro.

Karolina ainda distribuiu cartilhas sobre como comerciantes devem lidar com cadeirantes. No ano passado, ela contou por meio do livro "Pedroca, o Menino que Sabia Voar" parte da história do filho.


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