Poucas coisas alegravam tanto Nephtali como ajudar o pai a desatolar o carro em alguma estrada perdida do Sudeste. Durante as férias escolares, o menino acompanhava Nachum em suas andanças de Macaé (RJ) a Cachoeiro do Itapemirim (ES), vendendo canetas, isqueiros, canivetes e alicates de cutícula.
Caixeiro-viajante com teto em Olaria, no subúrbio do Rio, Nachum veio da Polônia ainda criança. Filho de um fabricante de malas, teve uma infância pobre e aprendeu a economizar desde cedo.
"A avó dava um tostãozinho para ele pegar o bonde e, para não gastar, ele ia correndo pela linha", diz o filho. "Aí depois ele devolvia a moeda".
Bom de contas e de espírito itinerante, foi feliz na profissão. Conheceu a mulher, Lisete, em uma parada em Campos dos Goytacazes (RJ).
Em determinado momento, as finanças se estabilizaram. Abriu uma loja e montou base no centro carioca. Mesmo assim, a psique desgarrada prevalecia –como fazia questão de viver de aluguel, nunca comprou um imóvel.
Alto-astral, tratava a todos com leveza e era conhecido como avesso a reclamações.
Era também destaque nos jogos de salão. "Jogava um tênis de mesa fantástico e no futebol de botão não tinha para ninguém", afirma Nephtali, que lamenta não ter tido mais oportunidades de dizer ao pai como ele foi importante em sua formação.
Não precisava: Nachum sabia disso desde os tempos dos atoleiros no Espírito Santo.
Morreu no dia 29 de novembro, aos 91 anos, após falência de múltiplos órgãos. Deixa dois filhos, cinco netos e dois bisnetos.
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