Folha de S. Paulo


País tem ao menos 357 cidades sob risco de novo surto ligado ao Aedes

Picture-Alliance/Associated Press/F. Dana
Mosquito _Aedes aegypti_, transmissor do vírus da zika
Mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue, zika e chikungunya

Levantamento do Ministério da Saúde aponta que ao menos 357 municípios brasileiros estão em situação de maior risco de novo surto de dengue, zika e chikungunya. Isso indica que mais de 4% dos imóveis visitados nestas cidades tinham larvas do mosquito Aedes aegypti, que transmite essas três doenças.

Outros 1.139 municípios estão em situação de alerta para novos surtos, o que ocorre quando esse índica fica entre 1% e 3,9%.

Os dados, que trazem um panorama dos riscos para o próximo verão, momento em que o clima fica ainda mais propício à infestação de Aedes, devido ao calor e às chuvas, são do último LirAa (Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes aegypti).

Ao todo, 3.946 municípios participaram do levantamento – um aumento de 73% em relação à análise feita no mesmo período do ano anterior, quando 2.282 municípios enviaram informações.

O crescimento ocorre após o governo determinar o bloqueio do envio de recursos federais de vigilância aos municípios que não enviarem tais dados. As vistorias foram realizadas entre outubro e a primeira quinzena deste mês.

Somados, os dados de risco e alerta indicam que cerca de quatro em cada dez cidades avaliadas apresentam maiores chances de desenvolver surtos de dengue, zika e chikungunya – o equivalente a 38%.

O percentual é semelhante ao encontrado em balanço realizado no mesmo período do ano anterior, quando 855 das 2.282 cidades estavam com quadro de risco ou alerta.

Entre as cidades nessa classificação neste ano, estão nove capitais: Maceió, Manaus, Salvador, Vitória, Recife, Natal, Porto Velho, Aracaju e São Luís.

Outros 2.450 municípios apresentaram situação satisfatória, ou seja, tinham menos de 1% dos imóveis analisados com focos de Aedes.

DADOS POR REGIÃO

De acordo com o levantamento, o Nordeste é a região com maior número de cidades analisadas em situação de risco ou alerta: 18,8% estavam nesse primeiro grupo na e 41% no segundo. O principal tipo de criadouro encontrado para os mosquitos nesta região foi o armazenamento de água em tonéis, barris e tina.

Em seguida, na lista de regiões com os maiores percentuais, está o Norte, com 9,3% em situação de risco 40,4% em alerta. O local teve no acúmulo de lixo o principal tipo de criadouro encontrado durante as visitas.

Já o Sudeste apresentou cerca de 20% dos municípios analisados nessas duas categorias, percentual semelhante ao do Centro-Oeste e Sul. A região, no entanto, chama a atenção por ter maior número de focos encontrados em depósitos móveis, como vasos com água e pratos.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

Diante dos dados, o Ministério da Saúde lançou uma nova campanha para incentivar a população a combater focos do mosquito. Já o dia de mobilização nacional contra o Aedes aegypti está marcado para 8 de dezembro.

"Estamos muito preocupados. O fato de ter diminuído a intensidade do problema [neste ano] provoca descuido das pessoas", afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros, sobre a necessidade de redobrar os cuidados para eliminar focos do mosquito transmissor.

Neste ano, o país teve redução no número de casos de dengue, zika e chikungunya, um cenário que pode estar associado tanto à forte epidemia vivida nos últimos anos quanto ao aumento das ações de controle após a declaração de emergência ligada ao zika e à microcefalia.

Dados do último boletim epidemiológico apontam 239 mil casos prováveis de dengue notificados entre janeiro até novembro deste ano, uma redução de 84% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Já os casos de chikungunya somaram 184 mil, com queda de apenas 32%. A doença também levou a 149 mortes.

Também foram registrados 16.870 casos prováveis de zika, uma queda de 92% em relação ao ano anterior.

Segundo Barros, a menor redução de casos de chikungunya indica que a doença pode continuar a circular com intensidade. "Mas sabemos que o mosquito é um transmissor universal. Por isso temos que combatê-lo", completa.

Ainda de acordo com o ministro, cidades que não enviaram dados têm até dezembro para enviarem justificativas ou informações. Caso isso não ocorra, o repasse de verbas para vigilância pode ser suspenso.

Além do cenário para dengue, zika e chikungunya, os dados de infestação de Aedes aegypti acendem o alerta para o risco em relação à febre amarela, já que a doença também pode ser transmitida por esse vetor em área urbana.

Segundo Barros, no entanto, neste ano, só houve confirmação de casos silvestres, transmitidos nas área rurais. Para ele, novos casos suspeitos podem ser notificados devido à maior preocupação despertada neste ano em relação à doença, mas o aumento na vacinação torna baixas as chances de confirmações, afirma.


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