Folha de S. Paulo


Zulmira Zechin Quaglio (1935-2017)

Mortes: Independente, derrubou muros de escola

Arquivo Pessoal
Zulmira Zechin Quaglio (1935-2017)
Zulmira Zechin Quaglio (1935-2017)

Lá vai uma pata com os seus patinhos. E curiosamente, uns franguinhos e peruzinhos no meio. Acolá, a situação se inverte: atrás de uma mamãe galinha vem um séquito de filhotes de pato, galinha-d'angola, peru.

A adoção inusitada era comum no sítio em que Zulmira foi criada com as oito irmãs mais velhas, em Sertãozinho (SP). A causa era a menina de espírito arteiro, que trocava os ovos de ninho.

Aos 18, Dudu –apelido que pegou após uma criança amiga da família não conseguir chamá-la de "Zuzu"– mudou-se para São Caetano do Sul. Trabalhou como professora na periferia paulistana até os 65, chegando a ser diretora.

A personalidade veio a calhar na escola municipal da Vila Ema. Combateu os assaltos que privavam os alunos de merenda ao trazer a comunidade para dentro da escola e mostrar a importância do espaço de ensino para o desenvolvimento local. Derrubaria os muros da escola, literalmente.

No ABC, conheceu o marido Helcio, com quem teve duas filhas. Ficou viúva cedo, mas, independente, tocou a vida. Ainda cursaria direito e tirou a OAB já após os 50. Apesar de ser a mais nova entre nove irmãs, era a líder. Uma delas, 16 anos mais velha, conseguiu lecionar pelo Estado graças a recurso insistente da caçula.

Ciosa de sua liberdade, Dudu sempre se virou. "Quando sentir que eu não consigo mais dar conta de mim, vou ser a primeira a admitir", dizia. Deu conta até o fim.

Morreu aos 82, na terça (21), após um infarto. Deixa as filhas Silvana e Cynthia, e quatro netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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