Folha de S. Paulo


Debora Ivanov Gomes (1935-2017)

Mortes: Com voz torrencial, libertou fiéis país afora

Com poucos recursos, Debora Ivanov estudava piano em um teclado feito de cartolina. Vindos da Bessarábia, no leste europeu, os pais faziam questão que os cinco filhos estudassem música, tradição reforçada nos cultos evangélicos que a família frequentava.

A vocação da garota, porém, era para o canto. Aos 12, já era solista na igreja.

Aos 17, conheceria Aires, dez anos mais velho. O homem sabia que tinha que dobrar a rígida família para conquistar a moça e, após dois anos, conseguiria o casamento. Os dois passaram 53 anos juntos e tiveram quatro filhos.

Arquivo Pessoal
Debora Ivanov Gomes (1935-2017)
Debora Ivanov Gomes (1935-2017)

O primeiro, Daniel, herdou a aptidão musical da mãe e brigava com o pai, para que a soprano se livrasse das obrigações familiares. Talvez por isso, quando o casal perdeu o primogênito precocemente, o marido se rendeu aos dotes da mulher e ela pôde voar.

Dali em diante, "foi um show", como conta uma das filhas. Debora fez aulas de canto lírico, trouxe o erudito de Händel e Bach para as igrejas e passou a receber convites para cantar pelo país. "Ouvi-la era como entrar em uma cachoeira" diz um sobrinho, sobre a catarse causada no público pela voz potente.

Caprichosa, aplicava o perfeccionismo em tudo o que fizesse -arranjos musicais, a alta costura, a culinária. Até para um lanchinho decorava a mesa com velas e flores. Deixou de cantar há dois anos, a idade lhe tomou o fôlego. Perseverou. "Vou recuperar a minha voz", disse. Manifestou ainda o desejo de aprender a tocar harpa.

Morreu aos 82, no dia 15, após parada cardíaca. Deixa os filhos Paulo, Debora e Mariangela, três netos e três irmãos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: