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Filho de desembargadora de MS é preso de novo por suspeita de tráfico

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Breno Borges, filho de desembargadora de Mato Grosso do Sul, foi preso novamente nesta quarta (22)
Breno Borges, filho de desembargadora de Mato Grosso do Sul, foi preso novamente nesta quarta (22)

A Polícia Federal prendeu mais uma vez o empresário Breno Fernando Solon Borges, 37, filho da presidente do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul), a desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges.

Breno Borges foi detido nesta quarta-feira (22), numa clínica médica em Atibaia (60 km de SP), e foi levado para o presídio de Três Lagoas, cidade sul-mato-grossense de onde partiu o pedido de prisão preventiva expedido pela Justiça.

Segundo a PF, a segunda prisão do filho da magistrada faz parte de novos desdobramentos de uma investigação que identificou a participação dele numa organização criminosa especializada no tráfico de drogas e armas e que também planejava a fuga de um detento.

Borges foi preso por tráfico de drogas no dia 8 de abril. Em julho, foi beneficiado com três decisões do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, e transferido da cadeia para se submeter a um tratamento contra o transtorno de borderline, caracterizado por instabilidade emocional e impulsividade, na clínica de Atibaia, onde estava desde o dia 25 de julho.

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abriu um procedimento para investigar se houve algum ato indevido na decisão que permitiu a saída dele da prisão para a clínica médica.

O ministro corregedor do CNJ, José Otávio Noronha, encaminhou ofício ao TJMS pedindo informações acerca do habeas corpus concedido em prol do empresário durante a madrugada, no plantão do desembargador José Ale Ahmad Neto.

Caso o CNJ avalie que houve alguma irregularidade, o desembargador Ahmad Neto pode ser penalizado com advertência e até com aposentadoria compulsória. A assessoria do TJ-MS disse que todas as explicações já foram dadas para o CNJ e que não comentaria mais a questão.

O presidente da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul), Mansour Karmouche, diz que está acompanhando o caso e aguarda decisão do CNJ.

PLANO DE FUGA

Antes mesmo de ser preso e denunciado pelo tráfico de 129,9 quilos de maconha, o filho da desembargadora já era alvo de investigação policial. Segundo a Polícia Federal, ele ajudaria na "fuga cinematográfica" de um detento do presídio de Três Lagoas.

O plano foi descoberto pela PF a partir da apreensão de celular que estava com o presidiário Tiago Vinícius Vieira, no dia 28 de março deste ano. Por meio de autorização judicial, no dia 7 de abril, a polícia teve acesso, identificando os integrantes da organização criminosa comandada pelo preso, entre eles, o filho da desembargadora, que seria responsável pelo transporte de drogas e armas.

Um dia depois, Borges foi preso em Água Clara (a 192 km de Campo Grande), quando transportava a maconha e 270 munições para armas de calibre 7,62 mm e 9 mm.

O relatório da PF, relacionado à Operação Cerberus, detalha conversas entre o líder do grupo, Borges e outras duas pessoas que dariam apoio na ação.

A primeira tentativa de fuga ocorreu em 27 de março. Um dia antes, pelo aplicativo de mensagem de texto Whatsapp, eles acertavam os detalhes da ação. O empresário garantiu participação no plano: "Amanhã é certeza mano", disse em conversa interceptada pela PF.

No dia combinado, conforme relatório da polícia, Borges e Dario Aparecido Cunha de Almeida, apontado como cúmplice, aguardavam a saída de Tiago Vieira com outro preso, citado apenas como "fuzil".

O líder do bando desistiu e adiou a fuga para o outro dia após a segurança do presídio ter sido reforçada devido a chegada de novos detentos. Apesar do plano ser cancelado, Borges seguiu conversando com o preso.

Ele pediu para que Vieira "vender a uzi [um tipo de pistola]". Na sequência, o preso perguntou ao filho da desembargadora se ele poderia dormir em Três Lagoas, mas, por áudio, ele disse que não.

"Dormir eu não posso. A minha filha tá em casa, ehh, eu tinha que ter alguma desculpa para minha mãe, entendeu? Se eu dormir aqui, vai dá desconfiança pra minha mãe...se for o caso eu venho amanhã, bicho". Depois disso, Borges voltou para Campo Grande.

OUTRO LADO

A reportagem entrou em contato, por telefone, com o advogado Gustavo Gottardi, que faz a defesa do empresário, mas ninguém atendeu às ligações até esta publicação.

Anteriormente, Gottardi disse à Folha que a decisão do TJ-MS não tem nada de extraordinária, sendo coerente, baseada no artigo 319 do Código de Processo Penal, que prevê internação compulsória se a perícia concluir pela inimputabilidade ou semi-inimputabilidade. "Não houve privilégio", afirmou.


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