Folha de S. Paulo


Sarkis Sarkissian (1932-2017)

Mortes: Calçadista foi 'presidente' da república armênia do Imirim

Ninguém entendeu nada na hora de planejar o enterro daquele primo: era só o terceiro membro da família a morrer desde que o sepulcro dos Sarkissian, com capacidade para oito caixões, fora comprado. No entanto, o defunto da vez estava sobrando –todas as covas estavam ocupadas.

O motivo não era surpreendente. Sarkis, o proprietário da tumba, cedera as covas para armênios que literalmente não tinham onde cair mortos.

Era mais um dentre os vários favores que prestava à comunidade: se alguma família fosse despejada, ele oferecia teto de graça em um de seus imóveis; nos registros da sua fábrica, constavam funcionários que nunca deram expediente –mas que, já idosos, precisavam cumprir o tempo de aposentadoria.

Industrial calçadista, diretor do Externato José Bonifácio e do Clube Marachá, bastiões armênios em São Paulo, Sarkis só era chamado de "Presidente" no bairro do Imirim, na zona norte.

Filho de refugiados do genocídio cometido pelo Império Turco-Otomano, começou a trabalhar aos sete anos, mascateando amendoim.

Ainda jovem, conseguiu abrir uma pequena confecção, no final dos anos 50. Foi evoluindo: mudou-se para um galpão maior, ampliou a linha de produtos e, com a marca Paloma, entrou no varejo.

Com a abertura da economia para as importações durante o governo Collor, fechou a lojinha em 1992. Nos bares e praças do Imirim, no entanto, o título honorífico nunca foi aposentado.

Morreu no dia 6, aos 85, após uma infecção intestinal. Deixa mulher, três filhos, seis netos e cinco bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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