Folha de S. Paulo


Paulo Benevides Soares (1939-2017)

Mortes: Astrônomo dos tempos do Renascimento

Arquivo Pessoal
Paulo Benevides Soares (1939-2017)
Paulo Benevides Soares (1939-2017)

Quando Maria Victoria lia o jornal depois do marido, era comum que se deparasse com equações rabiscadas nas margens das páginas. O cérebro do astrônomo Paulo Benevides Soares respondia a qualquer estímulo -estudar, para ele, era uma função orgânica.

Engenheiro formado pelo ITA (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica), passou a se dedicar à astronomia nos anos 60, quando foi convidado a fazer doutorado no observatório de Besançon, na França.

Voltou ao Brasil em 1968, convidado a desenvolver sua pesquisa na USP. Do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, foi professor titular de 1987 a 2009.

Dentre seus feitos, destaca-se a participação na criação do observatório da universidade em Valinhos (SP) -o antigo, na capital paulistana, caiu em desuso devido à poluição atmosférica da cidade.

Apesar da trajetória como homem das ciências, Benevides era considerado um intelectual completo. O amigo Antonio Candido o qualificava como "pessoa superior" devido à sua natureza modesta e ao perfil humanista; em homenagem na academia, foi chamado por convidada estrangeira de "renascentista".

Interessava-se por literatura, música, cinema, teatro. Politizado, sentia-se comprometido com os rumos do país e contribuía em todos os níveis: na relação com os alunos, como orientador atencioso ou pensando questões maiores. "Tinha uma profunda preocupação com o desenvolvimento científico e a formação do cidadão", diz a mulher.

Morreu nesta terça (7), aos 78, devido a complicações do mal de Parkinson. Deixa mulher, três filhos e três netas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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