A atuação de Raul Aragão nos anos recentes em Brasília por um trânsito mais amigável e uma coexistência pacífica entre os modais de transporte pode passar a impressão de que isso o definia.
Afinal, desde que conheceu a ONG Rodas da Paz, Raul "virou bicicleta", como diz a mãe, Renata. Envolveu-se em inúmeros projetos como voluntário. Um deles, o Bike Anjo, que ajuda pessoas que querem aprender a pedalar ou retomar a confiança com a bicicleta após algum trauma.
Quando era criança, a mãe questionou sobre ele em uma reunião com professores na escola. "O Raul é brilhante", a professora respondeu.
Referia-se à capacidade do garoto em ciências exatas, pelas quais ele chegou a ganhar prêmios. No ensino médio, usou esse privilégio para ensinar matemática a moradores de uma comunidade do Recife que prestariam o Enem.
Era o auxílio incondicional, portanto, a sua grande marca.
De forma ironicamente trágica, Raul foi atropelado enquanto pedalava perto de casa e morreu no domingo (22), aos 23. Deixa os pais, Renata e Helder, e quatro irmãos.
Em seu velório, foi lido o poema que tinha escrito em homenagem a Pedro Davison, ciclista que morreu após atropelamento em 2006. "A alguém que sabia que para ir longe não precisa velocidade", diz um dos trechos.
Na volta da cerimônia, outra violência: um assessor parlamentar avançou com o carro contra os ciclistas que há pouco se despediam. Nesta sexta (27), uma bicicletada em sua memória ocorre em diversas cidades. A relação de locais e horários está na página de Facebook da Rodas da Paz.
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